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REVISTA MENSAL DE ESTUDOS ANÍMICOS E ESPÍRITAS
SUMÁBIO
Problemas Humanos.
Redação
A Vidente de Prevorst.
Dr. Francisco Klõrs Werneck
Confederação Espíritica Pan Ameri¬
cana (CEPA).
C. E. P. A.
Loucura Progressiva.
Leopoldo Machado
Espiritismo e Psicanálise ....
Carlos ímbassahy
Fenômenos de Materialização . . .
Amadeu Santos
Os Discípulos de Jesus.
Aurélio A. Valente
Sugestão e Atitude Mental ....
Adaufo de Oliveira Serra
0 Espírito Criança.
J. B. Chagas
Livros e Autores.
Leopoldo Machado **
Espiritismo e Loucura.
Djalma Farias
Crônica Estrangeira ......
Redação
Espiritismo no Brasil.
Redação
Necrologia.
Redação
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ANO XXIII - E. S. Paulo - Matão, 15 de Junho de 1947 - NUM. 5
Renista Internacional
do espiritismo
REVISTA MENSAL DE ESTUDOS ANÍMICOS E ESPÍRITAS
FUNDADOR : Cairbar Schuíel
DIRETOR : José da Costa Filho *x* REDATOR : A. Watson Campeio
GERENTE : Anlonia Perche S. Campeio
Redação: Av. 28 de Agosto, n. 301 Oficinas: Rua Rui Barbosa, n. 673
QJ(s
f
k
PROBLEMAS HUMANOS
humanidade começa a
entrar numa nova éra
em que novos sistemas,
tendentes a resolver os
magnos problemas hu¬
manos, estão sendo ex¬
perimentados. Até ago¬
ra, a-pesar dos esforços hercúleos
empregados pelos homens de evidên¬
cia no cenário político, tais proble¬
mas continuam insolúveis, desafiando
diplomatas, economistas, cientistas,
escolas antigas e modernas, religiões
e filosofias.
O sistema democrático que há
séculos vem dirigindo a vida da hu¬
manidade não deu os resultados sa¬
tisfatórios que todos esperavam. O
atrito entre o capital e o trabalho
continua a jogar faíscas por todos os
lados e, se não aparecer a tempo
uma fórmula conciliatória, veremos o
crepitar das suas chamas a devorar
os restos de uma civilização decaída,
sôbre cujas cinzas se erguerá natu¬
ralmente um novo mundo baseado na
justiça.
O fascismo e o hitlerismo, de
triste memória, e o comunismo que
vem sendo um verdadeiro espantalho
para os açambarcadores e os Irus-
lislas que, como vampiros, sugam até
a última gota da economia popular
são os frutos amargos do sistema de¬
mocrático que, como as religiões do¬
minantes, falhou na sua missão de
bem servir a todos com equidade, de
vez que protege meia duzia de aven¬
tureiros insaciáveis, em detrimento de
milhões e milhões de creaturas que
vivem na miséria, sem roupa, sem
pão e sem remédio, enfim, sem a
menor proteção dos responsáveis pe¬
la sua situação aflitiva.
E’ claro que o mundo não póde
ficar como está. Ha de surgir, nêsse
cáos, alguma cousa que ponha tudo
no seu devido eixo. O sistema demo¬
crático, as ideologias e governos di¬
tatoriais jamais resolverão a magna
questão, porque ’se pudessem já o
teriam feito ha mais tempo, uma vez
que já foram postos à prova.
Existe atualmente um movimento
trabalhista destinado a socializar os
povos sob a égide da justiça, movi¬
mento êsse que vai ganhando terre¬
no nas massas trabalhistas, que são
realmente o esteio da sociedade, das
nações, de vez que sem o produto do
operário e do lavrador, ninguém, por
mais rico e poderoso que seja pode¬
rá subsistir. Sem o alimento em pri¬
meiro lugar, e a roupa em segundo,
as utilidades, o dinheiro, o poder, etc.,
tornam-se cousas sem o menor valor
e até mesmo inúteis.
Os lideres dêsse movimento pen¬
sam resolver assim, a contento de
todos, empregados e empregadores,
a questão social. Conseguirão eles
pleno êxito nêsse louvável intuito ?
104 —
Revista internacional do Espiritismo
Duvidamos. Não que sejamos pesse-
mistas, peio contrário, como espiritas,
temos a obrigação de ser sempre oti¬
mistas, uma vez que vemos em tudo
isso a execução, sem perda de um
til ou de um i, das predições de Je¬
sus. Duvidamos precisamente porque
somos otimistas, senão vejamos:
O nosso mundo, que é uma das
muilas moradas da Casa do Pai , é
procurado, por fôrça da lei de evo¬
lução, pelos espíritos que ainda ne¬
cessitam libertar-se das injunções in¬
feriores da materialidade, dos seus
vícios e paixões, afim de poderem
habitar mundos superiores. Estão ap¬
tos a comprender as cousas, têm fa¬
culdade de discernir o bem do mal,
mas são ainda escravos de imperfei¬
ções morais ou espirituais. Uns mais
atrasados, outros mais adiantados,
mantêm entretanto entre si algo de
afinidade. Os mais atrasados não po¬
dem sentir a mesma paz de espírito
que sentem os mais adiantados e
nem ver as cousas mais claras que
êstes.
Os mais adiantados sabem cum¬
prir os seus deveres, respeitar e aju¬
dar os seus semelhantes, conhecendo
que os bens materiais são provas tal¬
vez mais pesadas que os sofrimentos
físicos, por isso que têm forças para
renunciarem tudo o que é terreno e
que sirva de estímulo ao orgulho e à
vaidade.
Havendo desigualdade de con¬
dições morais e espirituais, de inteli¬
gência e raciocínio, como se poderá
fundar uma sociedade em bases fir¬
mes, em que imperem realmente a
justiça e o espírito de fraternidade ?
Não [basta socializar as massas,
é preciso antes que tudo sociabilizá-
las cristãmente, isto é, dar-lhes ins¬
trução moral e espiritual, para que
elas compreendam e cumpram os
seus deveres de solidariedade frater¬
na, construindo o templo de uma so¬
ciedade verdadeiramente cristã. Se
não houver um movimento nêsíe sen¬
tido, tudo o que se fizer a respeito
não atingirá o seu fim e as lutas con¬
tinuarão por tempo indeterminado,
causando males inenarráveis.
E' preciso sociabilizar sob a mo¬
ral cristã e não socializar apenas.
Socializar é reunir em sociedade, uma
reunião na qual, a par de meia duzia
de esclarecidos, existem milhões de
fanáticos, ignorantes, perversos, etc.
Sociabilizar é educar. E para a edu¬
cação ser completa é preciso a prá¬
tica da moral cristã, do Evangelho
de Jesus interpretado em espírito e
verdade.
No momento conhecemos só¬
mente uma escola que sabe sociabi-
lizar as massas — o Espiritismo. Pre¬
tender acabar com a miséria e a es¬
peculação apenas para satisfazer as
aspirações materiais das massas, que
se fossem ricas e poderosas fariam o
mesmo que fazem os magnatas, é
malhar em ferro frio.
Educar moral e espiritualmente
as massas é o que se deve fazer já,
se efetivamente quisermos que a jus¬
tiça e a solidariedade fraterna esta¬
beleçam o seu domínio nêste mundo.
Esta tarefa não foi confiada a
nenhuma das religiões tidas como ofi¬
ciais, porque já faliram no seu traba¬
lho de evangelização, nem a nenhum
dos homens que se movimentam no
tablado das competições humanas.
Eoi confiada ao Espiritismo sómente,
porisso que a difusão desta doutrina
equivale a sociabilizar cristãmente as
massas, para que, libertas das suas
imperfeições morais e espirifuais, pos¬
sam constituir um só rebanho com
um só pastor — o Cristo de Deus.
Os males que afligem os povos
atualmente são o prenúncio de me¬
lhores dias em um futuro um pouco
distante ainda, porque o progresso
não dá saltos. Porisso que sustenta¬
mos o nosso otimismo, muito embora
a procela aumente a sua fúria de ho¬
ra em hora.
O corpo, sendo exclusivamenle material, passa pelas vicissitudes da
matéria; depois de ter funcionado por algum lempo, desorganiza-se e de¬
compõe-se. O princípio vital, por não achar mais elementos para a sua
atividade, extingue-se e o corpo morre. O Espírito, para quem o corpo
privado da vida daí em diante não iem utilidade, deixa-o como se aban¬
dona uma casa em ruinas ou uma veste imprestável. — A. KARDEC.
Revista Internacional do Espiritismo
105 —
PRIMEIRA PARTE
A Vida e as Faculdades da Vidente
Chegada da vidente a Weinsberg
Quando chegou a Weinsberg, a
25 de Novembro de 1926, era a sra.
Hauffe uma perfeita imagem da mor¬
te: descarnada como um esqueleto e
incapaz de manter-se em pé ou
de deitar-se sem auxílio alheio. Era
preciso dar-lhe, a todos os momen¬
tos, uma colher de caldo, que não
podia engulir e que, muitas vezes,
deitava fóra. Se não se fizesse isso,
desmaiava ou tinha convulsões. Êla
pressentia certo número de sintomas
inquietanles e cada noite, às 7 horas,
caía em estado sonambúlico, que era
comumente precedido de um cruza¬
mento de braços e de uma prece.
Depois os estendia, deixando-os re¬
pousar sôbre o leito e começava a
falar, mantendo os olhos fechados e
as feições animadas.
No dia da sua chegada, desde
que adormeceu, ela me chamava, mas
lhe fiz ver que só a veria quando
estivesse acordada. Despertou então
e eu me transportei para perto dela,
dizendo-lhe, em tom breve e sério,
que estava decidido a não dar aten¬
ção ao que diria durante o seu sono
e que não queria mesmo que se me
desse conhecimento disso. Acrescen¬
tei que êsse estado sonambúlico, que
causava tantas inquietações aos seus
amigos, devia ter fim. Apoiei essa de¬
claração com expressões muito enér¬
gicas, porque tomára a firme resolu¬
ção de tratar do seu caso só pelos
recursos ordinários da medicina. Proi¬
bí se ocupasse dela quando se a-
chasse em seu estado sonambúlico e
iniciei um tratamento homeopático re¬
gular, mas as doses dos medicamen¬
tos, mesmo as menores, produziam
nela efeitos opostos aos que eram de
se esperar. Apresentou vários sinto¬
mas alarmantes e tornou-se muito
provável que o seu fim não tardaria:
Pelo Dr. Justino Kerner
Tradutor: T)r. Francisco Klòrs Werneck
todos os seus amigos chegaram a ês¬
se resultado.
Era já muito tarde para que o
meu plano tivesse qualquer probabi¬
lidade de sucesso. Sob a ação de
influências magnéticas de diversas es¬
pécies, seu sistema nervoso fora leva¬
do a um estado tão excepcional e a-
normal que não lhe era possível viver
mais tempo por sua própria fôrça
nervosa, mas só pela que lhe trans¬
mitiam outras pessoas. Fiquei conven¬
cido disto depois de bem pouco tem¬
po. Ficava-se espantado ao vêr com
que segurança ela indicava, durante
seu sono, os meios que deviam cu¬
rá-la e, com grande vergonha sua,' o
médico era obrigado a verificar quan¬
to os meios, que ela prescrevia, su¬
peravam em eficácia tudo o que a
sua farmacopéia podia fornecer.
Assim, depois de ter, durante vá¬
rias semanas, mantido o meu trata¬
mento médico, perguntei-lhe, quando
em estado de vigília, se um trata¬
mento magnético regularmente minis¬
trado lhe seria útil, dizendo-me ela
que não poderia responder-me senão
à noite, pelas sete horas, quando se
lhe fizessem passes magnéticos. Co¬
mo eu estivesse bem resolvido a evi¬
tar os processos magnéticos, encar¬
reguei um amigo de fazer os passes,
do que resultou ela dizer que um tra¬
tamento magnético, cuidadosamente
seguido durante sete dias, muito con¬
tribuiria para restituir-lhe as forças.
Êsses passes diários resultaram,
com profundo espanto seu, porque
ela não sabia o que se executava, em
fazê la sentar-se na cama no dia se¬
guinte, sentindo-se mais torte do que
nunca, desde o começo do seu tra¬
tamento. Prosseguiu-se, então, duran¬
te vinte e sete dias, um tratamento
regular, observando-se, estritamente,
todas as instruções que ela dava du¬
rante o seu sono e se puseram de
lado todos os outros meios.
Revista íuccrnacionai do Espiritismo
- 106 ~
Ainda que o restabelecimento
completo de sua saúde fosse impos¬
sível e permanecessem sempre sinto¬
mas penosos, essa infeliz mulher foi
tão grandemente aliviada por êsses
meios quanto era de se desejar num
caso de tal natureza, porém o abalo,
que ela experimentara por ocasião da
morte de seu pai, neutralizava essa-
influência benfazeja e, desde então, a
sua vida não parecia manter-se se¬
não por um fio.
Os acontecimentos dessa vida
interna, as numerosas indicações so¬
bre a vida interior do homem, sôbre
a existência de um mundo de espíri¬
tos em torno de nós, assim como sô¬
bre o que podemos chamar de tem¬
po em que a nossa alma, liberta da
matéria que pesa sôbre ela, desen¬
volveu suas asas para voar, sem óbi¬
ces, através do tempo e do espaço,
constituirão a matéria deste volume.
Limitar-me-ei a citar os fatos, dei¬
xando a outros o cuidado de inter¬
pretá-los.
Já se propuseram bastante teo¬
rias para explicar tais fenômenos. Eu
os conheço, mas que me seja permi¬
tido não adotar nenhuma delas. Que¬
ro apenas procurar mostrar, citando
diversos exemplos de aparições do
mesmo gênero, que as revelações
dessa sonâmbula nada descobriram
que não seja natural e que já não te¬
nha sido observado, mas as visões
dessa natureza, que atravessam o es¬
pesso invólucro da vida ordinária,
não são mais que vestígios da luz de
uma região superior.
(Continua)
CONFEDERAÇÃO ESPIRÍTICA PA N AMERICANA (CEPA)
(sT ELEITO SEU CONSELHO EXECUTIVO
Na Presidência o Delegado da Liga Espí¬
rita do Brasil
Em data de 28 de Abril último, na
sede da Confederação E. Argentina (CEA),
a calle Sanchez de Bustamante 463, em
Buenos Aires, na República Argentina,
onde se realizou o i.° Congresso E. Pan
Americano, sob a Presidência de Delfino
Ferreira, Delegado da Liga E. do Brasil e
Representante da Faculdade Brasileira de
Estudos Psíquicos, da Federação E. do Pa¬
raná, da «Revista Internacional do Espi¬
ritismo» e do jornal «O Clarim», de Ma-
tão, S. Paulo, Congresso cuja finalidade,
com êxito alcançada, foi a fundação de
uma Entidade Federativa do Espiritismo
organizado nos países das Américas, ins¬
talou-se esta, representada na CONFE¬
DERAÇÃO E. PAN AMERICANA
(CEP A), uma vez organizado, afinal, o
Conselho Federal, que é constituído dos
Representantes de todas as Entidades inter-
americanas adesas, quer hajam se feito
representar ou não naquêle Congresso,
tendo as que ao mesmo aderiram, fazen¬
do-se ou não representar, o título de
FUNDADOR em se filiando ao novel or¬
ganismo. Ourrossim igual título cabe ás
individualidades que ao mesmo Congres¬
so aderiram.
O Brasil está representado na CEPA
pelas seguintes Entidades: Liga Espírita
do Brasil, Faculdade Brasileira de Estudos
Psíquicos, «Revista Internacional do Es¬
piritismo», C. E. «Estrada de Damasco»
(E. do Rio de Janeiro) e «Tribuna Espí¬
rita», de S. Paulo. Relativamente ás ade¬
sões pessoais não temos elementos sufi¬
cientes para uma informação completa aos
nossos leitores.
Representam, no Conselho Federal da
CEPA aquelas Entidades brasileiras os se¬
guintes confrades portenhos, devidamente
credenciados : Engenheiro Sr. José Salva¬
dor Fernandez, da Comissão Diretiva da
Sociedade «Cons.tancia», a decana das En¬
tidades espiríticas argentinas; Snra. Rosa
H. de Garcia Romano, Presidente da Co¬
missão Feminina de Cultura e Assistência
Social da CEA; Sr. Santiago Bossero, ex-
membro da Mesa Diretora do referido
Congresso e de Secretariado organizador
da CEPA ; Sr. Hugo Nale, Presidente da
CEA, ex-2. 0 vice-presidente do Congresso,
ex-membro do citado Secretariado e pre¬
sidente da Comissão Organizadora do
Congresso; e Sr. Albireo Bárcon, ex-con-
Revista Internacional do Espiritismo
107 —
gressista e elemento de alta projeção na
Sociedade «Constância» por sua cultura
e autoridade na doutrina.
Reunidos todos os membros do Con¬
selho Federal, trocadas idéias em torno
de determinadas exigências estatutárias,
resolvidas todas as dificuldades e aplaina¬
dos todos os obstáculos, procedeu-se à
votação para os diversos cargos do Con¬
selho Executivo, por voto secreto, e para
cada cargo de per si. Destarte, feita e
apurada a votação para o de PRESIDEN¬
TE DA CEPA, resultou eleito o Sr. En¬
genheiro José S. Fernandez, ex-3. 0 Vice-
Presidente do i.° Congresso E. P. Ameri¬
cano, e membro do Conselho Federal co¬
mo Delegado da LIGA ESPÍRITA DO
BRASIL.
A seguir foram eleitos, sucessiva-
mente :
i.° Vice-Presidente: Sr. Natálio Cec-
carini, ex-congressista, e Diretor da Re¬
vista «LA IDEA», órgão oficial da CEA.
Representante da Sociedade de Estudos
Metapsíquicos, do Chile;
2. 0 Vice-Presidente: Sr. Bienvenido
Roque, Representante da CEA, ex-Con-
gressista, Relator do ante projeto de Es¬
tatutos da CEPA e Presidente do Ateneu
de Buenos Aires;
Secretário Geral: Dr. Luis Di Crís-
tóforo Postiglioni, Representante da Fe¬
deração E. de Porto Rico, ex-secretário
geral da Comissão Organizadora do Con¬
gresso e também deste; da Comissão Di¬
retiva da Soc. «Constância» e Secretário
da Revista «Constância»; Delegado, no
Congresso, da Sociedade de Medicina e
Espiritismo do Rio de Janeiro;
Secretário Administrativo: Sr. Albi-
reo Barcón, Representante da «Tribuna
Espírita», de S. Paulo, Brasil;
Secretário de Relações: Sr. Prof. Eu¬
gênio Fioravanti, ex-congressista, relator
de uma de suas mais importantes Comis¬
sões, Representante dos Estados Unidos,
pelo Centro Caridad, New York;
Secretário de Imprensa e Propaganda:
Sr. Humberto Mariotti ; Representante da
Soc. Victor Hugo, de Buenos Aires; ex-
congressista e membro da Mesa Diretora,
e do Secretariado organizador da CEPA
por Delegação do Congresso;
Tesoureiro: Sr. Francisco Garcia Ro¬
mano, Representante da Soc. «Te Peddo-
no», de La Plata. Ex-congressista, mem¬
bro da Mesa Diretora do mesmo e ele¬
mento ativo e de valor na CEA;
Vice-Tesoureiro : Sr. Hugo Nale, Re¬
presentante do C. E. «Estrada de Damas¬
co», Brasil;
Vogais: Srs. Nicolás Galasso, Re¬
presentante da Soc. La Fraternidad, de
Buenos Aires; e Santiago Bossero, Re¬
presentante da «Revista Internacional do
Espiritismo», Brasil.
De 5 representações brasileiras qua¬
tro integram o Conselho Executivo.
Temos, assim, em início de marcha,
transformada em facto, a idéia de que re¬
sultou a criação da CEPA.
Que as Entidades e os Espiritistas
de todas as nações das três Américas
COMPREENDAM O ALCANCE ESPI¬
RITUAL dêsse empreendimento, vendo
na CEPA um órgão de confraternização
antes que de mando; um organismo me¬
nos de sistematização que de difusão da
Doutrina; uma entidade que pretende ser
cérebro e coração, não braço diretor ou
executor : que pretende federar para ir¬
manar, para confraternizar, tornar-se o
fio que una entre si todas as entidades
espiríticas americanas, sem, todavia, criar-
se um exclusivismo continental, tanto que
de seus Estatutos consta sua adesão, em
tempo, à Internacional de Paris.
Que o Brasil Espiritista, que tanta
responsabilidade tem na expansão e prá¬
tica da Doutrina, responsabilidade que
lhe advém de sua atividade doutrinária,
de suas iniciativas, de sua estuante atua¬
ção, possa compreender, êle mais ainda
que as outras nações irmãs, o papel que
a cada uma dessas nações cabe nêsse mo¬
vimento, mormente considerando a éra
que vivemos, de luta e de «experimenta¬
ções».
A Confederação E. Pan Americana
(CEPA) precisa e deve crescer, viver, pro¬
duzir para colher. E a seiva mais forte
ainda está na ação do Brasil espiritista,
que, portanto, mais tendo, mais deve dar.
E’ preciso compreendermos, nós to¬
dos, povos da América Espiritista, que de
nossa união, da coesão de nossos esforços
espirituais depende o futuro do Espiritis¬
mo, não apenas na América, mas NO
MUNDO!
Nascido ou renascido na América,
passando para a Europa, o Espiritismo
retornou à América, e, nesta, está no
Brasil sua maior expressão de luz e de
amor. De ação e, quiçá, de Liberdade.
E’ por esta Liberdade que precisa¬
mos lutar, dentro de uma ação pacífica
- 108
Revista Internacional do Espiritismo
que sómente na união de todos poderá
encontrar sua força, sua vida.
«Ninguém tem o direito de por-se
ã margem dos grandes movimentos de união
espiritual , AIFIDA QUE NO FIM , FRA¬
CASSEM», como superiormente se ex¬
pressou José da Costa Filho justificando
a adesão da «Revista Internacional do Es¬
piritismo» à CEPA.
O 2. 0 Congresso E. Pan Americano,
como ficou resolvido em plenário do i.°,
se realizará no Brasil, naturalmente no
Rio de Janeiro (é idéia de para outras
vezes que a reunião toque ao Brasil, es¬
colher-se S. Paulo, Belo Horizonte, e su¬
cessivamente outras cidades). A presidên¬
cia da Comissão Organizadora, caberá à
Entidade Nacional de maior quadro as¬
sociativo. E’ bom irmos pensando nisto
desde já...
LOUCURA PROGRESSIYA
-^ Leopoldo Machado -
Os males, mais do que as venturas,
nunca vêm só.
E’ mais forte entre as desgraças a
lei de alidades.
Por isso é que a guerra é mal que
nunca vem só.
Depois dela, a fome, as epidemias,
as loucuras não faltam.
Falemos um pouco do último dos
males aí enfileirados.
Pouco antes da guerra, o psiquiatra
americano, Henri Soulivan, lançou ao
mundo o brado de alarme contra a lou¬
cura universal que o dominava. E disse
que a humanidade, louca, ou esquizofrê¬
nica, preparava, na sua loucura, a maior
e a pior das guerras.
A guerra, que testemunhámos, deu
razão ao psiquiatra.
Está, quasi, a terminar...
E a loucura ?
As dificuldades que as nações ven¬
cedoras estão encontrando para firmar a
paz; dificuldades bem maiores do que as
que demandaram para vencer os inimigos,
e a quantidade de loucos por toda parte,
estão gritando, altíssima voce, que a lou¬
cura progride desbragadamente.
E contra mal tão grande, que provi¬
dências sérias a tomar ?
Com a palavra ilustre médico patrí¬
cio, dr. Mirandolino Caldas, autoridade
no assunto, através de jornal dos mais
lidos: O Globo.
Dí-lo assim o ilustre médico:
«Nenhum sistema, nenhuma política
sanitária, nenhuma política assistencial
conseguiu, até hoje, frear a loucura em
nenhuma parte».
Em toda parte, sim 1
Até nos países líderes, no momen¬
to, por seu poderio militar, por sua cul¬
tura, por seus recursos formidáveis.
Temos diante dos olhos substancio¬
sa estatística da loucura declarada, por¬
que de enfêrmos hospitalizáveis, nos maio¬
res países do mundo.
Queremos, porém, focar os três mais
respeitáveis : Estados Unidos, Inglaterra e
Rússia.
Os loucos nos Estados Unidos, que
andam a superlotar os manicômios, da¬
riam para superpovoar duas capitais bra¬
sileiras: Recife e Salvador.
Povoariam Porto Alegre, e ainda so¬
braria muita gente louca, os da Inglaterra.
Os da Rússia superpovoariam Belem
do Pará e S. Luiz do Maranhão.
Loucos hospitalizáveis, note-se bem.
O «estado maior da Loucura», què
o grosso da tropa, lá por fóra dos mani¬
cômios.
E muitos, com situação de desta¬
que e de mando, no comércio, na políti¬
ca, nas indústrias, nas ciências ...
E essas nações líderes, que dispo-
seram de recursos para esmagarem inimi¬
go tão poderoso na última guerra, dis-
põefci de meios para atender a todos os
estigmatizados por mal tão terrível ?
Absolutamente 1
Basta citar um só caso: o da Rússia.
Para abrigar seus duzentos mil lou¬
cos, a grande e poderosa Rússia não dis¬
põe de mais de 40.000 leitos, segundo o
depoimento do psiquiatra russo, Prozo-
roáf...
E trata-se de uma nação que já re¬
solveu a questão social, correndo sua po¬
lítica e seu governo ao encontro do povo !
Revista Internacional do Espiritismo
— 109 —
Como será a situação de tão gran¬
des infelizes entre os povos vencidos ?
Na Alemanha, por exemplo, os ma¬
nicômios estão pondo os loucos na rua,
por excesso de candidatos a eles e por
falta de recursos para mantê-los.
De um país muito nosso conhecido,
certo cronista muito vosso conhecido ou¬
viu, uma feita, de ilustre alienista o se¬
guinte : cSe o governo pusesse aqueles
infelizes do Hospício encostados á parede
e mandasse fuzilar a todos, faria maior
obra de caridade, creia, do que dar-lhe o
tratamento e a assistência que lhes dá I
Parece que a época é de loucura
progressiva.
Tão grande, que dela escreveu o
médico acima citado : «A população ma-
nicomial cresce, cresce sempre em todos
os países. Cresce naqueles que facilitam
amplas acomodações hospitalares, como
os Estados Unidos e Inglaterra ; cresce
nos que procuram poupar as acomoda¬
ções, como a Alemanha, a França, a Ita-
lia e muitos outros países; cresce, final¬
mente, naqueles que procuram reduzir e
comprimir, a todo custo as referidas aco¬
modações, como a Rússia Soviética* ...
Tão deficiente e imperfeita é, ainda,
a assistência que as nações conferem aos
seus loucos, que proíbem, ou criam em¬
baraços àquilo que, querendo colaborar,
sponte sua e gratuitamente, com os go¬
vernos, se propõe a diminuir a loucura à
face do Planeta: o Espiritismo.
E é o Espiritismo a única terapêu¬
tica de molde a curar 90 ®/o dos loucos
que abarrotam os manicômios, que se cru¬
zam conosco, a todo instante, por aí, em
virtude de 90 °/ 0 serem mais obsidiados
do que loucos 1 E de estarmos vivendo a
hora apocalíptica da soltura, por algum
tempo, do Satanaz (leva de espíritos imun¬
dos que desceram à Terra, afim de ten¬
tarem todos os povos, a Gog e a Magog),
empurrando-os à guerra e à loucura.
(Apoc. XX —8). E de ser a Terra, atual¬
mente, a casa varrida e ornada, a que
seus espíritos imundos, dela egressos ha
séculos, estão voltando, trazendo cada um
consigo sete espíritos ainda piores. (Mat.
XII— 43 a 45).
E só o Espiritismo se propõe, era
nome do Cristo, a colaborar com os go¬
vernos nêste passo, sem pedir, quasi sem¬
pre, aos governos nada mais além da per¬
missão de poder agir, curando, assistindo,
confortando os doentes ...
Para nós, nenhuma obra é mais me¬
ritória, porque cheia de mais renúncias
e abnegações dentro do Espiritismo, do
que a cura de obsidiados, do que a ma¬
nutenção de casas para tais fins.
Que nos importam a nós que teóri¬
cos «Mestres em Israel» andem a gritar,
para implícita justificativa de sua descari-
dade e de seu comodismo, dentro duma
Doutrina que não comporta comodistas,
que o Espiritismo não existe para isso ?
O Espiritismo existe para tudo que
possa beneficiar a humanidade.
E beneficiá-la, arrancando-a da lou¬
cura é a maneira mais santa do benefício !
Nunca é de mais, portanto, presti¬
giar obras com o desideratum de comba¬
ter a loucura, cooperando e colaborando
com os que lhes estão à frente, porque
tais obras são as mais altruísticas que se
constroem em nome da Doutrina e do
Cristo.
E’ êste, pois, o caso do Sanatório
Espírita , de Uberaba, da Casa Allan Kar-
dec , de Franca, do Sanatório Américo
Bairral, de Itapira, do Asilo Deus, Cristo
e Caridade, de Itapemirim, do Hospital
Espírita , de Porto Alegre, todos em fran¬
co funcionamento. E do Bom Retiro , de
Curitiba e Pedro de Alcantara , inaugura¬
dos a entrarem em pronto funcionamento.
E do Sanatório Jesus , de Cruzeiro, em
vias de construção.
Combater a pról de tais instituições
é, por certo, «combater o bom combate»,
a despeito de teóricos e comodistas «mes¬
tres em israel* andarem a escrever por
aí que tais obras devem estar na alçada
dos governos e não do Espirirismo...
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- 110 —
Revista internacional do Espiritismo
Espiritismo e Psicanálise
CARLOS
IMBASSAHY
Passando a vista pelo ótimo jornal
que é «O Estado de São Paulo », deparou-
se-me um artigo do Roger Bastide, «O
Espiritismo ponto de encontro da Psica¬
nálise e da Sociologia».
Para êsse autor o «Espiritismo ofe¬
rece em todas as suas sessões, romances
do inconsciente, cuja leitura é facil», E
de fato, com muita * facilidade» vai êle
resolvendo, com os complexos da Libido,
o complexo de Edipo, o rancor ao pai, a
ambivalência de sentimentos e outras coi¬
sas, essencial e admiravelmente psico-ana-
líticas, todas as manifestações espiritas.
Todas, veja-se bem.
Antes de analisar, por meudo, o ar¬
tigo do ilustrado sr. Bastide, convém as¬
sinalar os erros da doutrina, nesse parti¬
cular, o que faz supor que todas as de¬
mais locubrações dos mestres da Psicaná¬
lise se revestem dos mesmos enganos.
Convém notar, desde logo, que os
imaginosos analistas, substituem com in-
disfarçável sem-cerimônia, os fatos paten¬
tes, insofismáveis, prováveis e probantes
do psiquismo, pelas suas indemonstráveis
teorias. A essas teorias, cujo pedestal se¬
guro não se sabe onde está, chamam eles
de ciência, enquanto os fatos da metapsí-
ca são para êles os romances do incons¬
ciente ; tudo provém das vegetações que
se alastram pelos fundalhos da alma, ve¬
getações que êles foram descobrir, por
uma acuidade especial que nos falha.
O romance pois, é o nosso.
Como, porém, nunca vimos os da¬
dos positivos em que se fundam as suas
conjeturas, e, pelo contrário, o que no¬
tamos é que os fatos os desmentem, so¬
mos levados a crer que se trata de uma
ciência dogmática, de cujos segredos são
detentores, apenas, alguns privilegiados.
Há a considerar, mais, que os prin¬
cípios da doutrina se devem figurar indis¬
cutíveis aos novos levitas, visto que, em
regra não descem a nos explicar as dúvi¬
das, mormente quando as firmamos em
provas concretas. E’ bem de ver que os
axiomas não se discutem. Eles se limitam,
então, do alto em que se colocam, a la¬
mentar, talvez, a nossa pequenez inte¬
lectual.
Mas isto que poderá parecer um
gesto de alta superioridade, não passa de
um gesto de alta prudência, porque, ab¬
solutamente inscientes na matéria, a cons¬
ciência ou subconsciência lhes está a di¬
zer que êles se embrulhariam completa¬
mente se se metessem pelos difíceis ou
desconhecidos caminhos da explicação.
Vejamos, agora, aquêles axiomas do
ponto de vista que nos interessa, e va¬
mos ao eminente chefe dos postulados.
Na obra de Freud — O Futuro das Reli¬
giões, encontramos o seguinte :
«Os espiritistas, que se declaram
convencidos da perduraçao da alma in¬
dividual e nos querem demonstrar êste
princípio da doutrina religiosa, não
conseguem, por desgraça, rebater vito¬
riosamente a objeção de que todas as
aparições e manifestações de seus espí¬
ritos não são mais que produtos de sua
própria atividade psíquica. Têm evoca¬
do o espírito dos grandes homens e dos
mais eminentes pensadores, porém to¬
das as manifestações e todas as notícias
por êles obtidas são tão simples e tão
desconsoladoramente vazias, que o mais
que podem provar é uma singular ca¬
pacidade dos espíritos para adaptar-se
ao nível intelectual daqueles que os
conjuram».
Por êste pequeno trecho se nota até
onde vão os conhecimentos do Mestre.
Parece que não será fácil encontrar-se em
tão curto período errônias de tanta monta.
Cumpre notar, desde logo, que a
perduração da alma é assunto de que tra¬
ta a parte filosófica ou científica. Mos¬
tremos, agora, como é inverdadeira, ab¬
solutamente falsa, a afirmativa de que as
manifestações são produto da própria ati¬
vidade psíquica, são desconsoladoramente
vazias e adaptadas ao nível dos que as
conjuram.
Basta-se lêr qualquer descrição de
um facto, em Metapsíquica, facto de cer¬
to valor, e para logo se notará o espan¬
toso engano que o professor Freud levou
aos seus desprecavidos discípulos e trans¬
mitiu à posteridade. Exemplifiquemos, à
vol d’oiseau.
Por pequena mesa de três pés é in-
Revista Internacional do Espiritismo
111
vocado o espírito de Byron. E o poeta
responde :
Vex not the bard } his lyre is broken ,
His last song sung , his last word spoken.
«Não importune o bardo; está que¬
brada a sua lira, cantada a sua última
canção, dita a sua última palavra».
Ninguém na mesa sabia inglês.
A literatura psíquica sobre essa mo¬
dalidade do fenômeno — intitulada xeno-
glossia ou manifestação em línguas estra¬
nhas — é vastíssima. Nada disso, porém,
chegou, algum dia, aos ouvidos do prof.
Freud, como não chega hoje aos de seus
seguidores.
Barkas apresenta a uma senhora, sem
qualquer cultura científica, várias pergun¬
tas, em várias sessões; eram elas ligadas
aos diversos ramos da ciência, e êle, para
as formular, ou recorria aos especialistas
no assunto, ou as estudava prévia e lon¬
gamente. Refere o conhecido experimen¬
tador :
«Eis o problema que se apresen¬
ta : uma mulher de instrução comum
deu respostas a diversos assuntos cien¬
tíficos, cuidadosamente elaborados no
decurso de trinta e sete noites, prolon¬
gando-se a sessão por três horas de ca¬
da vez. Essas respostas são de tal or¬
dem que não se encontra um homem
na Inglaterra que pudesse fazer outro
tanto».
Seria preciso estar enfronhado nos
mistérios da psicanálise para verificar que
aquilo que, para Barkas, não poderia ser
reproduzido por ninguém na Inglaterra,
não passava de um vazio desconsolador.
Multiplica-se e se espalha pelos anais
do psiquismo o fenômeno das mensagens
literárias ou científicas recebidas por pes¬
soas sem instrução ou de cultura me¬
díocre :
A uma senhora é transmitida a obra
universalmente conhecida — A Cabana de
Pai Tomaz. Ester Dowen, que não é ro¬
mancista nem dramaturga, apresenta pe¬
ças do Espírito de Oscar Wilde. Chega a
um mecânico, por via mediúnica, a par¬
te final de um romance : era aquilo, nada
menos, que a continuação da obra de
Dickens, intitulada Edwin Drood. As duas
metades se acolchetavam de tal ordem,
que não se lhes podia descobrir a cisura.
Buckner aproveita em seus trabalhos cien¬
tíficos trechos e passagens de um livro
intitulado Arcana 0/ Nature. Grande, po¬
rém, foi o espanto do filósofo alemão
quando soube que os extratos provinham
de um Espírito, que os transmitia a um
abegão, Hudson Tuttle. Rosemary assom¬
bra os egiptólogos e arcaistas ingíêses com
as suas lições sobre a língua egípcia do
tempo dos faraós, dos costumes dessa é-
poca, e ainda porque escrevia naquele
idioma. Francisco Xavier, entre nós, é o
conhecido autor psicográfico de versos e
de prosa de eminentes poetas e escritores
patrícios falecidos.
Também não chegaram aos ouvidos
de Freud que os espíritos se materiali¬
zam e que as chapas fotográficas os re¬
tratam, e que as balanças os pesam, e
que vários outros aparelhos lhes demons¬
tram a presença; ou então não nos pô¬
de explicar por que maravilhosos pro¬
cessos do subconsciente um fantasma tan-
givel, falante, raciocinante pode ser pro¬
duto de uma atividade psíquica incons¬
ciente, apesar da independência que reve¬
la, quer quanto à linguagem, quer quan¬
to à fisionomia, quer quanto à inteligên¬
cia, quer quanto à vontade...
Nepenthès, o Espírito que se mate¬
rializou diante das maiores sumidades da
Ncwruega, fazia-se admirar, não só por sua
beleza física, como pelo saber que apre¬
sentava ; falava em grego antigo como
profunda conhecedora dêsse idioma.
Os irmãos Eddys, (conforme infor¬
ma o céptico dr. Olcott, depois do mi¬
nucioso inquérito a que procedeu), pro¬
duziam ruídos, movimentos de objetos,
desenhos a óleo e aquarela sob influência
espiritual, profecias, falas em línguas es¬
tranhas, curas, identificação de espíritos,
levitação, mensagens escritas, psicometria,
clarividência e, finalmente, formas mate¬
rializadas. E assim nos diz Conan Doyle
(The History of Spir) :
«Olcott gives the list thus—rap-
pings, movement of objects, painting
in oils and water — colours under in-
fluence, prophecy, speaking strange ton-
gues, healing, discernment of spirits, le-
vitation, writing of messages, psycho-
metry, clairvoyance, and finally the
production of materialised forms».
— 112 -
Revista Internacional do Espiritismo
Nada disso soube o grande Mestre
vienense, nem disso têm conhecimento os
seus admiradores. Nem mesmo, ao que
parece, tiveram alguma notícia de fenô¬
menos mais divulgados, que andam na
boca de cientes, inscientes e inconscientes,
como os de Eusápia Paladino, os de Dun-
glas Home, os de Florence Cook. . .
Nada, absolutamente nada! Por ma¬
neira que não se sabe aí o que é mais de
espantar, se o vazio das comunicações es¬
píritas, se o vazio do conhecimento deles.
*
Remexendo nas histórias de sonhos,
talvez por muito folhear em alfarrábios,
para chegar às suas famosas teorias, pro¬
vavelmente deparou-se a Freud a caudal
imensa dos fenômenos premonitórios, dos
sonhos que se realizam. Era preciso re¬
mover o calhau, e o Mestre não teve a
menor dúvida: lançou mais uma teoria—
a de que o indivíduo pensa que sonhou,
mas não sonhou; na ocasião em que se
dá o facto, êle tem a ilusão de que aqui¬
lo já lhe ocorrera em sonho. Esqueceu-se
o Mestre, apenas, de que se acham regis¬
trados milhares de factos, os mais docu¬
mentados de toda a fenomenologia meta-
psíquica, em que os sonhadores narram
os sonhos antes do evento.
E aquela blague veio inscrever-se en¬
tre as extraordinárias descobertas psico-
analíticas.
Em suma : se Freud e seus discípu¬
los põem sistimaticamente e sencerimo-
niosamente os factos de lado, não o po¬
demos fazer nós. Veremos, agora, como
os pôs também o muito ilustrado sr. Bas-
tide.
(e) Fenômenos de Materialização G)
v
Dezessete foi o número de con¬
frades reunidos no «André Luiz» no
dia dez do mês em curso, num dia
de terça-feira, em sessão de trata¬
mento espiritual em benefício de vá¬
rias pessoas enfermas, especialmente
das nossas irmãs Euridice e Lais,
presentes aos trabalhos. À Lais havia
sentido sensíveis melhoras na
sessão anterior e D. Euridice tam¬
bém se lhe tinha assentuado uma me¬
lhoria valiosa, tanio assim que já
poude vir, com seus próprios pés, re¬
ceber no recinto dos nossos traba¬
lhos, a assistência dos nossos irmãos
superiores do Espaço. Na presente
reunião a Lais achou sua cura radi¬
cal e a outra companheira nossa já
está quasi restabelecida por comple¬
to. À presidência da reunião esteve
a meu cargo, tendo-a iniciado com
uma prece. Um dos nossos amigos
do Além dá-nos explícita orientação,
através da mediunidade sonambúiica
do médium Lins. Êste recolhe-se, em
seguida, à cabine, e o ambiente se
estabelece pela prece, pela medita¬
ção, pelo canto de suaves hinos e
por ligeiros comentários evangélicos.
Surgem várias irradiações de luz na
penumbra feita no recinto. Nina apre¬
senta-se-nos materializada. David su¬
cede àquela entidade, vindo à assistên¬
cia e distribuindo cravos naturais aos
presentes. A primeira pessoa contem¬
plada foi a minha irmã Madalena,
que recebe carícias do dedicado es¬
pírito, que foi nosso pai nesta exis¬
tência. Todas as vezes que a queri¬
da entidade voltava da cabine vinha
junto à Madalena tocando-a, dando-
lhe passes e passando-lhe flores pelo
rosto, fazendo-a transbordar de júbi¬
lo e emoção. Quasi todas as pessoas
presentes receberam cravos de várias
cores, de Nina e David. O ]osé fála-
nos, por voz direta e joga-nos uma
pedra. Nina pede-nos para que can¬
temos o hino «Entardecer», que ela
acompanha em côro. David orienta-
nos sôbre o estado de saúde de duas
pessoas doentes, a nosso cuidado,
uma das quais se encontra em Por¬
tugal. O Jacks faz-lhe perguntas inte¬
ressantes a que o espírito responde
com precisão e clareza, em palavras
repassadas de doçura e carinho. Os
conhecidos espíritos de Abel Gomes
e Scheila, aparecem simultaneamente
materializados no ar. O Dr. João Pas¬
sos, aparece-nos materializado à en¬
trada da cabine, do lado esquerdo.
Revista Internacional do Espiritismo
- 113 —
José Grosso ainda nos enJretem com
palavras cheias de graça e meiguice.
Abel Gomes aparece, agora, mate¬
rializado, vendo-se ao seu lado es¬
querdo, o busto respeitávei do vene¬
rando espírito de Batuira, numa ma¬
terialização parcial, aparecendo só¬
mente o seu rosto com a sua respei¬
tável barba irsuta. Scheila faz uma
prece, por meio de voz direta, avi¬
sando, em seguida, de que deveria¬
mos encerrar os trabalhos. Já o nos¬
so companheiro Inácio se achava na
cabine a dar o passe no médium e a
despertá-lo e ainda se onviram níti¬
das vozes, apresentando-se uma luz
forte, de cor escarlate. Fiz a prece
final, encerrando os trabalhos. O A-
bel havia-nos deixado uma luva de
parafina. O José tentava presentear-
nos com o modêlo de uma das suas
mãos; porém não deixou, senão par¬
le do seu trabalho, por ter a parafi¬
na esfriado, por falta de energia elé¬
trica. Procedeu-se então à repesa-
gem dos assistentes, tendo perdido
peso os seguintes companheiros: eu,
um quilo; Peixoto, um quilo; Dr. Le-
vindo, meio quilo; Dr. Alfredo Cruz,
um quilo; o Jacks, dois quilos.
Rio, 15—12—946.
Amadeu Santos
■6
J ESUS chamou os discípulos e
recomendou-lhes : «ide e pre¬
gai, dizendo, é chegado o rei¬
no dos céus, curai os enfêr-
mos, limpai os leprosos, ressuscitai os
mortos, expulsai os demônios; dai de
graça o que de graça recebestes;
não possuais ouro, nem prata, nem
cobre em vossos cintos, nem alforges
para o caminho, nem duas túnicas,
nem alparcas, nem bordão, porque
digno é o operário do seu alimento.»
Esta exortação leva-nos a crêr
que os verdadeiros seguidores de Je¬
sus são apenas aqueles que agem de
acordo com essas recomendações,
mesmo porque disse ainda, «não são
aqueles que dizem senhor, senhor, —
que entrarão no reino de Deus, mas
aqueles que fazem a vontade de meu
Pai que está nos céus». E que von¬
tade é essa ? E’ bem simples, se Je¬
sus disse, eu o Pai somos um, claro
está que a sua Doutrina é divina e a
recomendação aos discípulos é a von¬
tade de Deus.
Nós espíritas não devemos nos
afastar dêsse pensamento e assim, to¬
do o nosso esforço deve ser no sen¬
tido de praticar tudo o que êle acon¬
selhou aos seus discípulos, se dese¬
jamos realmente ser considerados tra¬
balhadores da seára do Senhor.
Infelizmente, porém, a maior par¬
te dos nossos confrades em vez de
seguirem as pègadas do Mestre per¬
dem tempo com assuntos que causam
o mal, a discórdia, a descrença, o
ridículo.
Confrades respeitáveis, encane¬
cidos na luta da propaganda des¬
viam-se pelos atalhos do êrro para
discutir no desejo de impôr suas opi¬
niões, que certas ou erradas se tor¬
nam antipáticas pelo modo um tanto
insolente como são apresentadas.
Já temos dito que o conceito da
religião depende do entendimento e
sentimento de cada um. E’ preciso
razão iluminada para entender, co¬
ração cheio de amor para sentir.
Sem compreender a fé é céga e le¬
va fatalmente ao fanatismo, sem a-
mor não haverá fraternidade, tolerân¬
cia e nos tornamos exclusivistas.
Se a religião depende de enten¬
dimento e sentimento individual, é ló¬
gico que, estando cada ^uin de nós
num degrau diferente da infinita es¬
cala da evolução, não poderá haver
duas pessoas que creiam e pratiquem
a religião do mesmo modo. Isso a-
contece no meio católico, protestante
como no espírita. Após uma sessão
prática as oniniões variam de acor¬
do com o número dos componentes
- 114
Revista Internacional do Espiritismo
da mesma. Se êle tiver se realizado
com dez pessoas, teremos dez opi¬
niões. Cada um julgará os fenómenos
a seu modo. O que um aceitar por
completo, outro apenas aceitará em
parte, enquanto um confia com segu¬
rança num médium, dois ou três du¬
vidam.
Eis porque, até agora, nenhum
confrade ainda nos viu empenhado
em polêmicas, especialmente com
confrades, pois a nosso ver as dis¬
putas entre nós não trazem luz e sim
trevas.
Ultimamente revivem com insis¬
tência o assunto do corpo fluídico de
Jesus. Que interessa ao homem para
praticar o bem, saber se Jesus viveu
em corpo fluídico ou semelhante ao
nosso ? Disso poderá porventura de¬
pender a sua norma de proceder? Não.
Muitos confrades, ao transporem
os humbrais do outro mundo, compa¬
recem sôfregos e angustiados às ses¬
sões para revelar suas profundas
amarguras e decepções ao chegarem
no país da verdade. Todos falam aca¬
brunhados, repetindo... se eu sou¬
besse ... Mas todos sabiam perfeita¬
mente, a vaidade foi que os perdeu.
Por vezes ficamos a fazer con¬
jeturas e a nossa imaginação forma
quadros interessantes, vejamos um
dêles.
O espírita Anastácio desincarna
e satisfeito dirige-se ao tribunal. Eis-
me aqui Mestre Jesus, fui um dedica¬
do à causa da Nova Revelação, ser¬
vi como médium, fui pregador e jor¬
nalista e não perdi tempo como se¬
meador.
Jesus olha carinhosamente e per¬
gunta-lhe, quantas vezes vestiste os
nús? quantos enfêrmos curaste? quan¬
tas lágrimas enxugaste? quantas dis¬
córdias evitaste? quantas vezes per¬
doaste ?
E o Anastácio espantado ... res¬
ponde sentindo aflições porque co¬
meça a compreender a verdade.
Senhor, não tive tempo, na an-
sia de pregar, de escrever, principal¬
mente os pontos obscuros, descuidei-
me dessa tarefa. Queria que todos
conhecessem a tua vida, sobretudo, a
tua natureza, o teu corpo e com isso
até, desgostei muitos amigos e até
protetores invisíveis.
Ah! meu amigo, que devemos
procurar saber melhor a forma ou a
essência ? O que interessa, o corpo
ou a alma ? O que vale mais a pa¬
lavra ou o sentimento ?
E o Anaslácio sentiu-se tão pe¬
quenino, tão triste que chorou de ar¬
rependimento.
Quantos quadros assim devem
constituir uma pura realidade ?
Os que desejam ser classifica¬
dos como verdadeiros discípulos de
Jesus, devem dedicar-se por comple¬
to à tarefa de beneficiar os seus se¬
melhantes, sem perder tempo com
aquilo que não traga proveito.
As polêmicas tem as suas van¬
tagens e por isso não devem ser con¬
denadas. E’ mister que esclareçam
sem dividir, que instruam sem impo¬
sições, que iluminem sem ironia, que
não sirvam de pretexto para demons¬
trações de vaidade.
Coleções da «Revista Internacional do Espiritismo»
Encadernada em costaneira de couro:
Do 2.° ano Cr. $50,00
Do 6.° ano . . 50,00
Do 10.° ano . . 50,00
Do 13.° ano . . 60,00
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Do 20.° ano . . 60,00
Do 5.° ano Cr.$ 50,00
Do 8.° ano . . 50,00
Do 12.° ano . . 60,00
Do 15.° ano . . 70,00
Do 18.° ano . . 60,00
Do 21.° ano . . 60,00
Rgyista Internacional do Espiritismo
115 —
— XII —
O dr. Jerger conta-nos, sincera-
mente, o seguinte : Uma cliente a se
queixar de barulhos ensurdecedores
na cabeça, como si estivesse ouvin¬
do uma serraria. E êle anestesiou-a
simulando uma operação. A doente
ficou radicalmente curada quando êle
lhe apresentou uma bacia cheia de
serradura de madeira, que garantia
ter sido extraída do interior de seu
cérebro tão crédulo... Mas o essen¬
cial estava realizado : À doente sa¬
rou...
Hoje em dia já se fala em cho¬
ques elétricos para a obtenção da
cura de melancolias nervosas.
Na idade média todos os doen¬
tes mentais eram julgados possuídos
por màus espíritos, demônios, como
ainda o são hoje pelo Espiritismo in¬
compreendido e péssimamente prati¬
cado.
«O espiritismo que, em suas rai¬
zes, é tão velho como a humanidade
e se baseia essencialmente na cren¬
ça da comunicação entre os espíri¬
tos dos vivos e dos mortos, recebeu
a primeira sistematização doutrinária
com o pensador francês Allan Kardec
(1Ô03-1Ô69), em obras que tiveram
propagação mundial. Apesar-de mui¬
to conhecida no Brasil através da
prática e do culto, de muito popula¬
rizado mesmo nas classes incultas a-
través do chamado baixo espiritismo,
poucas pessoas têm a noção exata
do que seja a doutrina espírita, nos
seus fundamentos teóricos e na con¬
cepção filosófica de que parte», são
palavras bastante autorizadas e opor¬
tunas de Almir de Andrade, no apênd.
79, pag. 1ô0 do VIU volume de «A
ciência da vida» que traduziu de Wel-
les e Huxley.
Tudo isso se verifica por falta
de estudo, má fé, interesses inconfes¬
sáveis, ignorância de seus princípios
basilares, pelos que se alvoram di¬
retores e presidentes das entidades
espíritas, que confundem animismo
com espiritismo, mediunidade com
histerismo, porque não têm um co¬
nhecimento «aprofundado do homem,
da sua fisiologia, das suas nevroses,
da sua aptidão para a mentira, da
sua susceptibilidade à sugestão, da
sua habilidade para a prestidigita¬
ção.»
Naqueles velhos tempos, diz o
dr. Gordon Garbedian, «os próprios
homens de medicina, vestiam-se fan¬
tasticamente na péle dos mais hor¬
rendos animais e dansavam em tor¬
no da vítima possuída do mal, intei-
ramenie despida, clamando aterrori-
santes exorcismos. Estirado de cós-
tas no chão, o paciente desampara¬
do era submetido a uma sóva vigo¬
rosa e depois forçado a sorver as
mais repugnantes beberagens que se
podiam imaginar, na firme crença de
que os maus espíritos achariam êsse
extraordinário tratamento ainda mais
terrível do que o próprio paciente
flagelado!
Afim de facilitar essa partida, a-
bria-se uma passagem aos demônios,
morcegos, serpentes e outros mons¬
tros, por meio de uma operação que
consistia cavar um buraco no crânio
do dasgraçado. Si apesar de tudo is¬
so os maus espíritos se recusavam a
deixar o corpo do possesso, era cos¬
tume, mesmo ainda no século dezoi¬
to, queimar na fogueira as infelizes
vítimas da insânia e de outras enfer¬
midades mentais, como «feiticeiras».*
Isso acontecia si o paciente re¬
sistia ao bárbaro, cruel e brutal tra¬
tamento de esconjuração.
Até 1Ô53 na Torre dos Lunáticos
de Viena, os loucos eram exibidos
em jaulas aos visitantes que paga¬
vam entradas para vê-los!
Não resta a menor duvida de
que a ciência tem feito muito em fa¬
vor dos doentes mentais. Amídalas e
adenóides infectados, dentes caria¬
dos, apêndices inflamados, são ou¬
tros responsáveis por moléstias ce¬
rebrais.
Conta Bertrand Russel que cer¬
ta vez um homem foi visita-lo, de-
- 116 -
Revista Internacional do Espiritismo
clarando lhe que admirava profunda¬
mente a sua filosofia, mas não con¬
cordava com a afirmação de Russel,
em que declarava que Júlio César
havia morrido. Russel pergunta-lhe
amavel e surprêso porque êle não
aceitava êsse facto como verdadei¬
ro. E o visitante responde : — Porque
Julio César sou eu !... Enquanto o vi¬
sitante tomava ares de importância
para confirmar suas palavras, Russel
voava para a rua em procura de um
policial.
Este é um caso típico de esqui¬
zofrenia em que o cérebro funciona
«como um carrilhão tocado sem com¬
passo nem melodia.»
Conhece-se com abundância de
detalhes como o cérebro funciona.
«Mas a explicação do processo neu¬
rológico de decorar, esquecer, pen¬
sar, sentir, do condicionamento dos
reflexos e da associação das idéias,
continua enigmática.»
Os mecanistas de um lado, acre¬
ditando no determinismo psicológico
de Watson e Ereud e seus seguido¬
res do outro, mais confundem do que
elucidam a vida mental e espiritual.
Já se descobriu clorina no líqui¬
do cérebro espinhal de loucos e já
se chegou a conclusão de que o cé¬
rebro de um anormal contém exces¬
so ou deficiência de determinados
compostos químicos.
No caso de demência precoce
já se sabe também que são as glân¬
dulas de secreção internas, as prin¬
cipais responsáveis, havendo curas
com a simples aplicação de iodina
composta ou tiroxina, hormônio da
tiróide.
0 ESPIRITO CRIANÇA
B. CHÂGÂS
— I —
OM o surgir no mundo a No¬
va Revelação trazida pelos
ensinos dos espíritos, forne¬
cendo a prova da sobrevivên¬
cia, da imortalidade da alma
e do seu destino, após a mor¬
te do corpo somático, a Hu¬
manidade poude, então, respirar aliviada
por haver se libertado do terrível pesa¬
delo das superstições e dos fantasmas do
passado.
O moderno espiritualismo não sur¬
giu como uma nova religião, iguais as
que conhecemos na antiguidade. Mas, apa¬
receu no mundo como um faról a ilumi¬
nar consciências, porque é uma crença
baseada em factos reais e palpáveis; que
se desenvolve e progride com a humani¬
dade, no sentido de unir todas as criatu¬
ras, incutindo-lhes no ânimo uma concep¬
ção mais ampla de Deus, das coisas e
das suas responsabilidades de espírito en¬
carnado.
Nela aprenderá a compreender o Sêr
Supremo, autor de tudo e de todas as
coisas. O homem não se considerará mais
como um autômato ou um joguete ás
mãos do Destino. No seu ego despertarão
os gérmes de amor e de bondade, que
a mão divina lhe depôs no íntimo, por¬
que lhe será dado conhecer uma religião
verdadeira, que não maldiz das demais,
porque paira acima de todas.
Iniciado o homem nos mistérios do
além túmulo, uma tranquila paz descerá
sôbre o seu espírito e êle poderá, então,
observar as cousas sob outros prismas,
porque mistér se fazia que conhecesse o
lugar verdadeiro que deveria ocupar no
Universo e a fraqueza dos seus sentidos
em face da grandeza da Creação.
A Ciência, até certo ponto, atenuou
essa deficiência. O telescópio descerrou
ao seu olhar os abismos do Infinito. O
microscópio revelou o infinitamente pe¬
queno. A vida apareceu por toda parte
no mundo dos infusórios.
O problema principal, e que dizia
mais de perto com a sua própria vida,
aquêle que desde todas as épocas, o preo¬
cupava numa inquietante expectiva, qual
seja o destino ria sua alma, após a mor¬
te do corpo, êsse continuava insolúvel 1
Várias suposições empolgavam as
criaturas. Será o homem comparável a
uma lira, e a sua alma à harmonia dessa
lira, harmonia que não existe mais quan¬
to esta lira se parte ? Não será a alma
senão a resultante do jôgo dos órgãos f
Ou será o motor indestrutível e mistério-
Revista Internacional do Espiritismo
'
so que aciona esses mesmos órgãos ?
O advento do Espiritismo veiu fa¬
zer luz sobre todas essas suposições, fa¬
zendo ruir por terra todas as teorias con¬
traditórias sobre o destino do sêr no além
túmulo, dizendo que depois da dissolução
do corpo o Eu continua a sua existência.
Sai dêle revestivo do perispírito. Conti¬
nuam a ver-se sob a fórma que tinham
antes de morrer e esta visão, nalguns,
produz, durante certo tempo, singular ilu¬
são : a de se crêrem ainda vivos. (L 1 V.
MED. n.° 53)
Como é do conhecimento dos espí¬
ritas esclarecidos, o nosso corpo físico
constantemente se renova, estando sub¬
metido a constantes mutações. Nenhum
dos átomos atuais da nossa carne, persis¬
te. O nosso corpo todos os dias assimila
novos elementos; desde as partes moles
do cérebro até as mais duras parcelas da
carcassa óssea, tudo se renova integral¬
mente em um certo número de anos. Sub-
; siste, todavia, uma fórma fluídica original
que se mantém e perpetúa. E’ o perispí¬
rito, o esboço fluídico do sêr humano, um
como que molde. O perispírito é o invó¬
lucro permanente do espírito, enquanto o
corpo físico não passa de um invólucro
temporário. O perispírito existia antes do
nascimento e sobrevive à morte.
Gabriel Delanne que muito se inte¬
ressou pelo estudo do corpo fluídico, che¬
gou a concluir que o perispírito é um
verdadeiro organismo fluídico, um modêlo
em que se concreta a matéria e se orga¬
niza o corpo físico. E’ êle — diz Delanne
—que dirige automaticamente todos os
atos que concorrem para a manutenção
da vida.
E’ esse modêlo, êsse «invisível dese¬
nho ideal pressentido por Claude Bernard »
que mantém a estabilidade do sêr no
meio da renovação integral da matéria or-
ganizada; sem êle a ação vital poderia
tomar todas as fôrmas, o que não se ve¬
rifica. E igualmente de acordo com êsse
modêlo fluídico perispirital que é regulada
a evolução embrionária do sêr até a sua
organização completa.
Diz Allan Kardec, em a GÉNESIS
— «que os espíritos teem um corpo fluí¬
dico a que se dá o nome de perispírito. O
perispírito não é encerrado no corpo co¬
mo numa caixa — acrescenta. Êle é ex¬
pansível por sua natureza fluídica, irra¬
dia-se e fórma em tôrno do corpo uma
— 117 —
espécie de atmosféra, que o pensamento
e a fôrça da vontade podem ampliar mais
ou menos. E’ por meio do perispírito que
os Espíritos agem sobre a matéria inerte
e produzem os diferentes fenômenos das
manifestações, e assim agindo sôbre a ma¬
téria, podem manifestar-se de muitos mo¬
dos diferentes.
Quando um Espírito se mostra, é
porque quis que o seu perispírito viesse
ao estado de poder ser visto. Podendo to¬
mar todas as fôrmas, valendo-se do con¬
curso da sua vontade, o Espírito apresen¬
ta-se sob a que melhor póde fazè-lo co *
nhecido, se êsse fôr o seu desejo.
Tanto que, apesar do Espírito não
conservar as enfermidades corpóreas, êle
se apresenta aleijado, côxo, ferido com
cicatrizes, se isso fôr necessário para pro¬
var a sua identidade. O mesmo quanto
ao traje. (pags. 15, 16 e 18).
No LIV. DOS ESPÍRITOS, o Co¬
dificador fez aos seus instrutores, a se¬
guinte pergunta : — «Como prova a alma
a sua individualidade, uma vez que não
tem mais corpo material?» E recebeu a
seguinte resposta : — «Continua a ter um
fluido que lhe é próprio, haurido na at¬
mosféra do seu planeta, e que guarda a
aparência de sua última incarnação : —
seu perispírito *.
Mesmo no seio da Igreja era supo¬
sição corrente de que a alma ou espírito
não poderiam existir sem corpo algum,
mas que possuíam uma espécie de corpo,
ou alguma coisa análoga a um corpo que
certas pessoas denominam o seu veículo.
(Obras de Santo Agostinho).
Tertuliano declara que a corporali-
dade da alma é afirmada pelos Evange¬
lhos : « Corporalitas animae in ipso Evan¬
gélico relucescit , porque escreve êle—se a
alma não tivesse um corpo «a imagem da
alma não teria a imagem dos corpos»
(De anima).
Compreende-se, pelo que foi trans¬
crito acima, embora o espírito desencar¬
nado possúa a faculdade de alterar a fór¬
ma do seu perispírito, que é claro e ló¬
gico que êle conserve sempre a fórma da
última encarnação. Quando, porém, pela
sua evolução nada mais conservem das
misérias terrenas, constitúe o seu perispí¬
rito, o mais comumente, de uma túnica
de longas pregas flutuantes e uma cabe¬
leira ondeante e graciosa.
(Continua).
Revista lntfcnn*ciori*l doBspirtnsmo
- 118
I Livros e Autores I
NOS DOMÍNIOS DO BEM-Her-
val e Carmo Bianco. S. Paulo.
A obra em cita, é uma brochura
graficamente bem apresentável, com 190
páginas, papel bufon, que nos vem de S.
Paulo, por deferência do médium Carmo
Bianco, cuja dedicatória agradecemos.
E 5 dividido em duas partes: a pri¬
meira sobre «a vida extraordinária de
Anesio Siqueira, notável médium cura¬
dor». A segunda parte: Mensagens Me-
diúnicas, recebidas pelo médium que no-la
ofertou. Mergulhamos os olhos no volu¬
me, a procura de um Anesio Siqueira
diferente daquele conhecido, quando dis-
tribuia «milagres» aqui em Campo Gran¬
de. E noticias de jornais, discussões na
imprensa e artigos em torno e sobre o
médium fomos lendo, até chegarmos á
página 61 do volume com que os com¬
ponentes do «Circulo Espiritualista Ane¬
sio Siqueira» dão-se por desobrigados do
preito de reconhecimento ao patrono.
Não vimos no volume o mais desabusado
dos ataques ao médium, que foi a do Pe.
Gabriel Hiram, de Cruzeiro. E a defesa
dp médium, que, então, fizêramos pelas
colunas do jornal A Naçao, grande ma¬
tutino carioca, que deixou de circular.
Depois é que conhecemos pessoalmente
o médium, quando esteve em Nova-Iguas-
sú, atraindo para o centro uma legião de
doentes do corpo e do espírito. Vale di¬
zer, a bem da verdade, que Anesio Si¬
queira aqui nada realizou, não correspon¬
deu á expectativa, deixou uma impressão
geral desfavorável: já pela falta de pro¬
dígios, já por seu desconhecimento geral
da Doutrina Espírita e do Evangelho do
Cristo; quer pela maneira grosseira com
que se dirigia aos espíritos, que se mani¬
festaram, ameaçando-os e descompondo-
os a fumar ostensivamente durante os tra¬
balhos, quer pela ausência total da sim¬
plicidade cristã com que era êle apresen¬
tado, através da Imprensa profana e es¬
pírita. Tanta foi a decepção de todos,
que a mesma pena que o defendera dos
ataques do Pe. Hiran, disse pelo Raio de
Luz, de suas impressões desfavoráveis, que
o Espiritismo não precisa de entusiasmos
fáceis, de sublimação ou canonização de
espiritistas e médiuns para se propagar,
de vez que êle «irá com os homens, sem
os homens e a pesar dos homens» . . .
Duas coisas porém é possível que
se houvessem dado — pois tudo é possí¬
vel na vida — para justificativa do fra¬
casso de Anesio Siqueira entre nós, em
Iguassú : que bom fosse êle e desmerece-
dores de suas graças fossemos nós, com
os 130 doentes, — menos nós, felizmente!
— que o procuraram inutilmente aqui.
E que, depois disso, para dian¬
te, êle, realmente, fizesse jus á glori¬
ficação que depois se lhe emprestou ; a
aureola da santidade que hoje se lhe con¬
fere. Ainda bem que nos lembramos de
que lhe aconselhámos se aproximasse, pe¬
lo estudo, do Evangelho do Cristo, que
desconhecia absolutamente e das obras
de Kardec, que as ignorava.
Se, de resto, êle não tivesse, poste¬
riormente, realizado algo que o acredi¬
tasse perante a consciência de muitos ir¬
mãos seus de convicções doutrinárias, cer¬
tamente não se lhe tributaria a distinção
sincera de que o livro é portador.
A outra parte, comunicações me-
diúnicas, sómente.
Somos — confessamos mais uma vez
— um frigidissimo «S. Tomé» para em¬
prestar crédito a quanta coisa aparece
por aí como comunicações do Além. Mor¬
mente se tais comunicações se enfeitam
com subscritores famosos, que foram gran¬
des nomes na terra. Preferimos, em tal
caso, recusar 99 delas, verdadeiras, a acei¬
tar uma só falsa. Aliás, a conselho do
Codificador, que diz claramente ninguém
pense é o fenômeno espírita a melhor
maneira de propagar o Espiritismo. Não
é. Antes, serve mais de descrédito, do
que de propaganda. Pois se, a mais das
vezes, nem a espiritas mesmo, que é o
nosso caso, interessam, quanto mais a cep-
ticos e agnósticos. De resto, o Espiritis¬
mo já avançou tanto que, para nós, sua
propaganda atual,- mais eficiente e im¬
pressionante, não é a mediúnica pura¬
mente, mas a da obra, a da cristianiza¬
ção, pelos exemplos e pelas obras, dos
espíritas, afim de que, por êste meio, pos¬
sam impôr-se ás massas! Esta, uma das
características do programa do Espiritis¬
mo de Vivos, que andamos pregando e
procurando exemplificar.
Revista Internacional cio Espiritismo
119 —
As mensagens da segunda parte do
volume, todas assinadas a grandes nomes,
desde D’Anunzio a Delane,—e são 371 —
nenhuma, da meia duzia que lemos ao a~
caso para justificativa do que aqui dizemos,
nos transmitiu nada de original, de pon¬
derável, de novo.
Todas, no mesmo estilo, na mesma
linguagem, a repetir conceitos, observa¬
ções.
Nem por isso deixamos de louvar o
esforço e a bondade do editor da obra
que, se a publicou foi, naturalmente, com
os própositos puríssimos de ser util ao
próximo, de servir a Doutrina que nos
irmana, de propagar o Espiritismo.
Só por isso, «Nos Domínios do
Bem» deve ser lido e apreciado. Princi¬
palmente pelos que não sentem e não
pensam como nós.
MEDIUNIDADE SEM LAGRIMAS
— 52 LIÇÕES DE CATECISMO ESPÍRI¬
TA e O ORADOR ESPÍRITA, de Eliseu
Rigonati, S. Paulo.
Somos dos que pensam que os espí¬
ritas ainda não sairam de sua fase de adap¬
tação ao Espiritismo. Daí, a diversidade de
métodos na sua pregação; certa negligên¬
cia na sua administração pedagógica às
crianças, a infinita modalidade do empre¬
go da mediunidade por aí em fóra. E é,
entretanto, da prática criteriosa da me¬
diunidade ; de sua difusão, por meio de
escolas bem aparelhadas e de aulas de mo¬
ral cristã bem dirigidas às crianças, e da
pregação consciente e esclarecida de seus
postulados, que ha de decorrer a implan¬
tação, em bases sólidas e definitivas, da
Doutrina Espírita.
Não faltam médiuns por aí em fóra.
Mormente, médiuns vangloriosos de co¬
municações bonitas, enfeitadas a nomes
respeitáveis, subscrevendo-as. Mas, o certo
é que poucos são, ainda, os médiuns que,
por bem conhecerem e sentirem a Dou¬
trina, orientam bem sua mediunidade,
ajustados às normas cristãs.
Já se contam, por aí em fóra, mui¬
tas escolas em Centros. Verdade é, entre¬
tanto, que são poucas as escolas espíritas
que funcionam como escolas espíritas , de
vez que uma escola espírita, ou num cen¬
tro espírita, para ensinar, apenas, o a. b. c.
que se aprende em todas as escolas, não
está colimando, integralmente, sua alta
finalidade.
Ha, com efeito, muita gente que
prega o Espiritismo. Mas, a verdade é que
são poucos os pregadores que conhecem
o que pregam e que o pregam com apu¬
ro de linguagem, cultura geral, sentimen¬
to e pureza.
Ora, obras que possam orientar mé¬
diuns de bôa vontade, professores de aula
de moral cristã e prégadores; mormente
obras em pequenos volumes, sintéticas,
que se leiam rapidamente, são obras que
devem ser recebidas a «bem vindas se¬
jam ...»
Eliseu Rigonati é um idealista como
nós mesmo. Com uma grande diferença :
tem, ainda, os cabelos pretos e faces sem
rugas. Mantém, em S. Paulo, uma oficina
grande. Criou uma empresa editora, a
Rialto. E imprime um jornalzinho, A IN¬
FÂNCIA ESPIRÍTA, que póde ser lido,
com prazer, por crianças dos seis e dos
sessenta anos. Já editou três pequeninos
volumes, mas apreciáveis na substância:
MEDIUNIDADE SEM LAGRIMAS, 52 LI¬
ÇÕES DE CATECISMO ESPÍRITA e O
ORADOR ESPÍRITA. Vale a pena ler
seus volumes. Em todos eles, a firmeza
de observações se harmoniza à pureza da
linguagem e a seguras normas doutriná¬
rias. Em todos eles, o forte desejo do au¬
tor, que é também nosso, de que o Es¬
piritismo se imponha, realmente, pelo que
é e o que vale, e não por tanta coisa
ruim que, em seu nome, se faz, se prega
e se ensina por aí em fóra.
Damos por bem pago o tempo que
destinámos à leitura dos volumes e somos
profundamente gratos ao autor pela ge¬
nerosa oferta que deles nos fez.
A chamada ciência oficial é limitada pelas suas concepções materialistas, porisso que
é impotente para solucionar com acerto muitos casos complicados de enfermidades que afli¬
gem os indivíduos. O Espiritismo vem alargar 0 campo dos conhecimentos humanos, para
que a ciência se complete, investigando e cuidando do espírito assim como investiga e cui¬
da do corpo, conhecendo que todas as enfermidades partem do espírito.
TI TOMBO.
- 120
Revista Internacional do Espiritismo
Espiritismo e Loucura
(Çj^T^TQUELES que estão vendo o
progresso e o desenvolvimen¬
to da propaganda do Espiri¬
tismo e não estão satisfeitos
nem tranquilos com a marcha
vitoriosa da doutrina, procuram sempre
criar mil obstáculos e dificuldades para
evitar que muitas pessoas venham a in¬
teressar-se pela filosofia espírita, chegan¬
do ao ponto de amedrontá-las, óra com
o inferno, óra com a loucura.
Nessas condições costumam insinuar
às pessoas tímidas que o Espiritismo é um
factor de loucura e que as sociedades es¬
píritas são fábricas de loucos.
Ora, sabemos, hoje, que as causas
da loucura estão bem definidas pela psi¬
quiatria e são: a hereditariedade, que Tré-
lat considerava a «causa das causas das
doenças mentais» ; as infecções, sobretu¬
do a sífilis ; as intoxicações, sobretudo a
alcoólica ; os traumatismos, principalmen¬
te os cranianos; causas sociais e emocio¬
nais. O Espiritismo, por si só, não póde
afetar as faculdades mentais.
Nada há na doutrina espírita que
possa provocar a loucura. Muito ao con¬
trário, ele bem compreendido e sentido,
é um antídoto da loucura. Esta, em
regra geral, provêm das vissicitudes, das
desilusões e decepções da vida, dos sofri¬
mentos físicos e morais, que sempre nos
amarguram. A doutrina espírita explica-
nos racionalmente a razão de ser das nos¬
sas dores e infortúnios, dá-nos uma con¬
cepção bem elevada da vida e faz-nos ver
todos acontecimentos de um plano mais
elevado, de modo que eles não nos atin¬
jam seriamente, não nos preocupem e
muito menos nos perturbem.
Encaramos todos esses acontecimen¬
tos como resultado dos nossos atos e do
nosso passado, porquanto foi no passado
que preparámos o presente e é no pre¬
sente que estamos preparando o futuro.
Sabemos que muitos sofrimentos, decep¬
ções e dissabores, que estamos, no mo¬
mento, experimentando, são o fruto de
nossas próprias ações, dos nossos pensa¬
mentos e atitudes.
Repete-se sempre que o homem so¬
fre ou goza conforme o uso que fizer da
sua liberdade. Não esposamos as idéias fi¬
losóficas do fatalismo, nem do determi¬
nismo.
Aceitamos a doutrina do livre ar¬
bítrio e nela fixamos a concepção da nos¬
sa culpabilidade e da consequente res¬
ponsabilidade. Ninguém sofre, em prova
ou em expiação, que não tenha necessi¬
dade de sofrer, que não esteja em débito
para com as leis de Deus. Só o Cristo
sofreu muito por nós, mesmo inocente,
sem precisar de resgatar dívidas contraí¬
das com as leis da providência. Mas, de¬
vemos advertir que Ele não veiu ao nos¬
so mundo como um espírito em prova
ou em expiação.
Ora, se conhecemos a causa dos
nossos sofrimentos, se sabemos que é por
êles que nos purificaremos, e se sabemos,
também, que devemos ser profundamen¬
te resignados e conformados; se sabemos
que devemos perdoar aquêles que Deus
colocou em nosso caminho para serem
instrumentos dos nossos sofrimentos e nos
porem, à prova, a paciência, e se sabe¬
mos, enfim, que precisamos oferecer o
exêmplo da paciência, da obediência e da
resignação, pois, como já se disse, com
muita propriedade, a obediência é o con¬
sentimento da razão e a resignação é o
consentimento do coração, não devemos
jamais nos abater, nos contrariar, nos en¬
tregar ao desespêro, à inquietação, às
emoções muito fortes, que poderiam afe¬
tar as nossas faculdades mentais, pois, re¬
conhecemos que é nas vicissitudes, nas
dores e decepções da vida que encontra¬
mos os melhores elementos para nossa
própria espiritualização, isto é, para a pu¬
rificação das nossas almas.
Já tivemos ocasião de referir-nos às
causas da loucura, segundo a opinião dos
mais autorizados psiquiatras, e entre elas
não encontramos o Espiritismo ou as prá¬
ticas espíritas. Muitos, visando combater
o Espiritismo, têm insinuado que as so¬
ciedades espíritas são fábricas de loucos
para amedrontar as pessoas que estão mui¬
to seguras de seu equilíbrio mental.
As causas principais da loucura são;
— hereditariedade mórbida, as infecções,
Revista Internacional do Espiritismo
— 121 —
a sífilis, as intoxicações, o álcool, os trau¬
matismos principalmente cranianos e ou¬
tras causas sociais e emocionais.
O dr. Helio Gomes, catedrático de
Medicina Legal da Universidade do Bra¬
sil, médico materialista, emitindo a sua
opinião respeitável e autorizada, afirma
categoricamente que o Espiritismo, por si
só, não afeta as faculdades mentais de
pessoa alguma.
Em seu esplêndido trabalho sôbre a
prática do Espiritismo e a saúde psíquica,
o dr. Helio Gomes assegura que qualquer
pessoa normal da mente, bem equilibra¬
da psiquicamente, póde frequentar como
entender as sessões espíritas, que seu cé¬
rebro continuará funcionando normal¬
mente.
E, na verdade, se o Espiritismo cau¬
sasse qualquer perturbação mental, se a
frequência às sessões espíritas afetasse o
funcionamento normal da mente, consi¬
derada a sua imensa generalização no Bra¬
sil, o número de doentes mentais nêste
país deveria ser dez vezes maior do que é.
O dr. Helio Gomes observa que
todas as crenças e superstições, quando
descambam para o fanatismo e misticis¬
mo, podem desviar o raciocínio de seu
curso normal. Resumindo a opinião judi¬
ciosa do ilustre médico patrício, vemo-lo
assegurar com justeza que o Espiritismo
não produz a loucura. E, mesmo como
médico materialista, em vez de acusá-lo,
defende-o, ensinando, com justiça e im¬
parcialidade, que a doutrina espírita, em
seu aspecto filosófico e moral, é mesmo
benéfica ao equilíbrio psíquico do indiví¬
duo, porque age como elemento contro¬
lador das grandes emoções e agitações da
vida cotidiana, estimulando, ainda, hábi¬
tos saudáveis e abstêmios.
O Espiritismo sacia a sêde humana
de duração, de eternidade e faz o indiví¬
duo conformar-se com as inevitáveis di¬
ferenças da vida e com a injustiça social.
Ora, do que estamos expondo é muito
fácil concluirmos que, longe de provocar
desequilíbrio mental nas pessoas, êle, ao
contrário, oferece elementos de perfeito
ajustamento psíquico, estimulando, pelas
doutrinas filosóficas e morais que nos en¬
sina, o perfeito funcionamento das facul¬
dades mentais.
Estamos referindo-nos ao Espiritis¬
mo verdadeiro e nunca ao falso, que se
tem denominado — macumba, catimbáu,
xangô e que, no Sul do país, muitos es¬
tão procurando estilizar-lhes as práticas
nocivas, com as denominações modernas
de umbandismo e quimbandismo, dando
lugar a essa enorme confusão reinante en¬
tre nós, graças à qual muitas pessoas qua¬
lificam essas práticas de baixo-espiritismo,
quando, na realidade, elas deveriam cha¬
mar-se falso Espiritismo. Não há, meus
carissimos leitores, baixo e alto Espiritis¬
mo, ou como costumava chamar o sau¬
doso e grande tribuno espírita Viana de
Carvalho : um Espiritismo de tamanco e
outro de sapato de verniz. Só há um Es¬
piritismo : é o codificado por Allan Kar-
dec e fundamentado nos Evangelhos de
Jesus. O outro, constituido por aquelas
práticas a que me referí, não é baixo e
sim falso Espiritismo.
Aliás, todos devem saber que nas
práticas adotadas no catimbáu, no xangô,
na macumba, usam-se sempre as imagens
e os ídolos da Igreja Católica, rosários,
têrços, círios e velas, incenso, e, 'obriga¬
toriamente, Santo Onofre, São Cipriano e
outros padroeiros, enfim, utiliza-se sempre
um arsenal de objetos de uso católico, de
modo que seria mais acertado denominar-
se de baixo-catolicismo o centro que ado¬
tasse aquelas práticas, o que não signifi¬
caria desrespeito às crenças católicas.
Se os sacerdotes combatem aquelas
práticas legitimamente africanas, os ver¬
dadeiros espíritas combatem-nas muito
mais.
III
Já vimos como o dr. Helio Gomes,
médico materialista, professor catedrático
de Medicina Legal da Universidade do
Brasil, tratando da prática do Espiritismo
e a saúde psíquica, afirma categoricamen¬
te que as sociedades espíritas não são fá¬
bricas de loucos e que o Espiritismo não
produz absolutamente a loucura; ao con¬
trário, é mesmo muito benéfico ao equi¬
líbrio psíquico do indivíduo, porque age
como elemento controlador das grandes
emoções e agitações da vida cotidiana, es¬
timulando, ainda, hábitos saudáveis e abs¬
têmios.
Muitos outros médicos, especialistas
em doenças nervosas e mentais, têm-se re¬
velado justos nas suas opiniões autoriza¬
das, defendendo o Espiritistno e assegu¬
rando que são outras, muito diferentes, as
causas principais da loucura.
Essas causas, no estado atual da ciên¬
cia, estão bem definidas e estabelecidas.
122
Revista internacional do Espiritismo
Nesta crônica vamos apresentar, con¬
densada, a opinião do professor Pinto de
Carvalho, respeitável catedrático de Neu¬
rologia e Psiquiatria na tradicional Facul¬
dade de Medicina da Bahia. Aliás, o dr.
Pinto de Carvalho não se limita à tése,
já muito repetida, das doenças mentais
provenientes da prática do Espiritismo, e
aborda ligeiramente a terapêutica espírita.
Afirma aquêle ilustrado facultativo
que discorda de muitos de seus colegas
que atribuem exclusivamente ao médico o
uso da psicoterapia, porquanto a verdade,
e não resta a menor dúvida, parecendo
até singular, é que a psicoterapia está
mais frequentemente nas mãos dos não-
médicos do que nas dos profissionais da
medicina.
Diz o dr. Pinto de Carvalho que são,
muitas vezes, os não-médicos que conse¬
guem certos milagres de cura, uma vez
que estão em melhores condições de rea¬
lizar certas espécies de psicoterapia pro¬
veitosa.
Assegura que as estatísticas pecam
sempre pela falta de bom critério julga¬
dor, quando não pela má fé dos que a
organizam. Basta que qualquer doente de¬
clare-se espírita ou que assistiu a sessões
espíritas, logo passa a figurar no acervo
de males espirfticos. Não se procura in¬
dagar qual a influência que as práticas
espíritas possam ter tido na manifestação
da doença, nem se estabelece o necessá¬
rio cotejo com os doentes de outras reli¬
giões. Por isso, as estatísticas não mere¬
cem fé.
Êle diz que tem encontrado muito
maior número de doentes mentais nas qu-
tras religiões.
Quantos católicos e sacerdotes, quan¬
tos protestantes e pastores têm enlouque¬
cido? Nenhum espírita, porém, já ousou
dizer que a causa foi o catolicismo ou o
protestantismo. Compreende-se que o fa¬
natismo, o misticismo e a superstição
possam perturbar as faculdades mentais
dos indivíduos e isso póde acontecer em
qualquer religião. Bem examinado o as¬
sunto, o que não se compreende é que
um espírita possa enlouquecer, pois, o
Espiritismo destrói as superstições e não
admite o fanatismo e o misticismo.
Os que tiverem as suas faculdades
mentais afetadas é porque já eram predis¬
postos e ficariam perturbados em qual¬
quer religião ou fóra delas. A causa da
loucura seria outra. Por tudo isso basta
de mentiras e calúnias assacadas contra a
doutrina espírita por aquêles que querem
combatê-la de qualquer módo, sem razão
e sistematicamente.
Êsses gratuitos adversários do Espi¬
ritismo deveriam lembrar-se sempre da¬
queles avisados e justos conceitos do ilus¬
trado professor Fernando de Magalhães,
da Academia Nacional de Medicina : —
«Não acredito no perigo médico do Es-
pirismo. Penso que a Academia não pó¬
de, em sã consciência, prociamar perigo¬
sas as práticas espíritas. Em vez de con¬
denar a terapêutica espírita, a Academia
deve evangelizar a medicina».
Djalma Farias.
Crônica Estrangeira
Publicação Póstuma
Os fenômenos psíquicos se desdo¬
bram, na sua grande variedade, de mol¬
de a não deixar dúvida alguma na in¬
fluência que os mesmos exercem sobre o
nosso destino.
O presente caso mostra como os
nossos guias protetores velam por nós,
quando não nos tornamos rebeldes às suas
sugestões e conselhos.
O caso presente pode servir de e-
xemplo ao que afirmamos. Uma senhora
do Além Mancha, lady Hardly, conta-o
nos seguintes termos: «Eu era ainda mui¬
to nova, tinha apenas 16 anos, quando ti¬
ve um leve ataque de sarampo. Vivia
nessa época com meu avô. Por conselho
médico, fui tomar um banho quente. Fe¬
chei à chave a porta do banheiro e me
despí; mas quando ia entrar no banhei¬
ro, ouví uma voz dizer: — abre a porta.
A voz era nítida e exterior, no entanto
parecia vir de dentro de mim. Fiquei
muito admirada e olhei em volta do quar¬
to mas não vi ninguém. Tornei a ouvir
a mesma voz — abre a porta. Enchi-me
de mêdo e disse de mim para mim : ou
Revista Internacional do Espiritismo
- 123 —
estou muito doente, ou então estou doi¬
da. Resolvi não pensar no caso e já esta¬
va dentro da banheira, quando ouvi a
mesma voz repetir duas vezes — abre a
porta. Assustada, saltei e dei volta à cha¬
ve para que ficasse só com o trinco.
Quando voltei para dentro dágua, sentí-
me agoniada e apenas tive tempo de to¬
car no botão da campainha, colocado ao
pé da banheira e desmaiei. A criada do
quarto veiu encontrar-me mergulhada
com a cabeça debaixo dágua. Como sou
magra e leve, poude segurar-me e ia le-
var-me para fora do quarto de banho,
quando, ao sair, minha cabeça bateu na
ombreira da porta, o que me fez recupe¬
rar os sentidos. Ter-me-ia com certeza
afogado se a porta tivesse ficado fechada
à chave. Que singular acontecimento, dis¬
se ela, de quem seria a voz que me avi¬
sou ? Quem poderá negar que tenhamos
em nós faculdades ignoradas pela ciência ?»
— Mesmo assim, diante de factos tão ex¬
pressivos, a nossa rebeldia não se subme¬
te. Eis o motivo de nossas dores; neces¬
sitamos sofrer e sofrer muito para que
assim possa ser quebrada nossa resisten¬
te obstinação e possamos modificar nos¬
sos pensamentos, dando à nossa vida mais
razoável orientação, de harmonia com o
fim para que fomos criados.
I
Frederico A . Gomes.
❖
Segunda Vida
Um caso de reencarnação, relatado por
um grande semanário de Milão
Em sua edição de 26 de Janeiro úl¬
timo, «La Domênica dei Corriere», de
Milão, na secção «A Realidade Romanes¬
ca» publica o seguinte, assinado por Lui-
gi Ugolini :
— E porque não devemos crer no
prosseguimento da vida, depois do fim da
existência corpórea ? — objetou o pálido
teósofo, com vivacidade.
— E o senhor acredita ?
A minha pergunta impulsiva, quase
agressiva, não desorientou o filósofo, que
me respondeu com calma e gravidade :
— Creio, senhor, firmemente, sem a
menor vacilação. Não obstante, já fui tão
céptico como o senhor, e mais céptico
ainda, porquanto era ateu.
— E que coisa vos pôde converter?
— Uma prova, uma daquelas pro¬
vas que convenceriam o mais endurecido
incrédulo.
— Quereis guardar segredo ?
O teósofo olhou-me longamente, e
depois respondeu-me com decisão :
— Com uma alma vulgar, talvez
quisesse, mas com o senhor, não. Demais,
é bom divulgar se a crença ; um dia, não
mais deveremos continuar incrédulos na
terra. O sr. conhece a minha filha, não é
verdade? E’ uma linda menina, que não
completou ainda os sete anos, inteligen-
tissima e precoce. Ela é a minha alegria,
o único conforto que me restou, depois
do desaparecimento... da outra.
— O sr perdeu uma menina ?
— Sim ... ou melhor : não sei. A-
juizará o sr. mesmo, depoi de ouvir a
minha história.
As últimas palavras
— Dez anos depois de casado, tive
a inesperada ventura de vêr nascer a mi¬
nha Stela, bela menina, boa e inteligente.
Eu morava então na província, numa pe¬
quena e quieta cidadezinha. Tinha na mi¬
nha companhia a minha mãe, e podia
considerar-me um homem feliz.
A avó adorava a netinha, e Stela
demonstrava, por sua vez, um apego for¬
tíssimo pela avó, tanto que a minha mu¬
lher terminou por se enciumar. E nesse
egoísmo sublime de todas as mães, diri¬
gia, às vezes, uma leve repreensão à pe¬
quena, acusando-a de não lh’a querer bem.
Stela, de uma inteligência superior
à sua idade, tinha, às vezes, respostas es¬
tranhas, que nos deixavam perturbados.
Lembro-me de que um dia a mãe lhe
falou :
— Porque não gostas de estar co¬
migo ? Acreditas que te quero menos do
que a vovó ?
— Não, — respondeu Stela, — és a
minha mamãe, e estarei sempre contigo ;
mas com a vovó só estarei ainda por mais
um pouco de tempo.
Tomamos esta resposta por um tris¬
te presságio, tanto mais que a minha
mãe, já de idade avançada, não gozava
também de boa saúde. Mas a previsão
devia-se realizar de modo diferente. Stela
adoeceu gravemente de escarlatina, e to-
dos os socorros da ciência de nada vale¬
ram. Minha mulher e minha mãe não
- 124 -
Revista Internacional do Espiritismo
saiam um minuto de perto do seu leito-
zinho. A menina, embora se agravando,
não perdeu jamais a sua lucidez. Poucas
horas antes de expirar, dirígiu-se á mãe :
— Eu te falei que tinha pouco tem¬
po para ficar com a avozinha !
Morreu na mesma tarde. Minha mu¬
lher meditou longamente sôbre as últimas
palavras da pequena, mas não conseguia
se acalmar.
— Mas comigo também ela sabia
que devia ficar tão pouco ! — repetia-me,
desolada.
Quanto à minha mãe, não pôde re¬
sistir ao golpe, e cinco meses depois ia
procurar a adorada netinha, num mundo
melhor. Já vos disse que era céptico por
natureza, e com aquela dupla desgraça
perdi por completo qualquer vislumbre de
crença. Não podia aceitar que um Ente
bom e misericordioso permitisse tanta
desventura. A cidade em que eu vivia
pareceu-me intolerável. Pedi uma transfe¬
rência, e consegui-a. No ano seguinte, mi¬
nha mulher era mãe pela segunda vez.
Eazia um ano da morte de Steia, e já
na minha casa sorria uma outra menina,
que era a imagem viva da desaparecida.
Chamei também de Steia a essa minha
segunda filha, e daquele dia em diante
reintegrei-me na vida.
A menina cresceu, como a outra,
bela e inteligente. A’s vezes a ilusão era
tão perfeita, que eu pensava ter sofrido
apenas um mau sonho.
Aos cinco anos Steia não sabia que
tivera uma irmãzinha, e recomendei à mu-
lher que não lhe fizesse nenhuma alusão
ao passado, para não perturbar a sua
tranquilidade.
Dois anos mais tarde, por motivos
de serviço, tive de voltar à cidadezinha
em que havia sofrido as duas perdas
cruéis, e, como devia demorar-me algu¬
mas semanas, minha mulher insistiu para
acompanhar me :
— Sozinho tereis de sofrer a dor
da recordação — disse-me. Além disso,
eu desejo levar uma flor ao túmulo da
nossa primeira Steia.
Levámos, naturalmente, a nossa fi¬
lha na viagem, mas confiamo-la a uma
família amiga, na hora da nossa visita ao
cemitério. Um dia, porém, enquanto pas¬
seavamos, silenciosos, pelas ruas da vizi¬
nhança, não sei se o acaso, ou uma fôr-
ça irresistível, aproximou nos da casa da
nossa desventura. Olhei para minha mu¬
lher, que rpe acenou com a cabeça. A’s
vezes o coração humano se compraz na
busca de antigas amarguras, na evocação
do passado.
Não podia saber . . .
«r
— Eu vos juro, senhor, que a mi¬
nha pequena não sabia, de maneira algu¬
ma, que nós tivéssemos jamais residido
naquela cidade... no entanto, nós a via-
mos voltar-se de um lado e de outro, es¬
tupefata, surpreendida. Sorria, e calava.
E eis que aconteceu a coisa inaudi¬
ta, inacreditável ! No momento preciso
em que passavamos diante daquela porta
e daquela janela, põe-se a menina a sal¬
tar alegremente.
— Olha ! olha, papai 1 — exclamou
— Olha a janela onde eu sempre ficava
com a avozinha ! Mas não tem mais flo¬
res, agora !
Senhor Deus ! Era verdade 1 Naque¬
le balcão, um tempo florido de gerânios
e cravos, a minha Steia perdida passava
longas horas, na companhia de minha
mãe !
Não sabia, a menina, não podia sa¬
bê-lo ! Eu e minha mulher nos entreolhá¬
mos, aterrados e mudos, como diante da
revelação do grande mistério da vida.
Depois prorrompemos num pranto
incessante, irrefreável.
*
Provas de Reencarnação
«Spirituaiisme» (Bélgica)
A snra. Juprelle, de Liège, subme¬
teu ao Congresso Espírita de Liège, em
Junho último, o seguinte caso de reen¬
carnação :
«Pierre D... morreu em Fevereiro
de 1921. Comunicou-se diversas vezes, tan¬
to pela tiptologia como por outros meios.
Certo dia, em Setembro de 1931, êle nos
afirmou que se reencarnaria em nossa fa¬
mília ; acrescentou que nasceria enfêrmo
e assim permaneceria até sua morte, aos
seis anos de idade. A uma pergunta mi¬
nha, êle deu a razão dessa curta reencar¬
nação : «Eu não me tratei no curso de
minha última existência e apressei minha
morte, seis anos antes; devo, pois, com¬
pletar essa vida.» Não tínhamos relações
com a família, mas por intermédio de
Revista Internacional do Espiritismo
125
um agente de polícia amigo, obtivemos
confirmação dos factos, sem que o poli¬
cia conhecesse a razão de nossas investi¬
gações. Foi êle próprio que nos forneceu
os primeiros esclarecimentos. Com efeito
a criança nasceu enferma e, a despeito de
todos os cuidados dos pais, morreu, co¬
mo fora anunciado, aos seis anos de ida¬
de, em outubro de 1938.
«Durante esses seis anos, Pierre D...
não deu sinal de vida por intermédio de
qualquer dos médiuns. Mas após a morte
de referida criança, êle voltou (em feve¬
reiro de 1939) dar-nos suas notícias. Al¬
guns anos depois, de novo anunciou sua
reencarnação (desta vez por intermédio
de sua própria filha), fornecendo diver¬
sos indícios. A filha casou-se em 1944; a
criança nasceu a 13 de Junho de 1945.
«Tudo faz crer que se trata de reen¬
carnação de Pierre D . . . Física e moral¬
mente o menino se assemelha a Pierre
D . .., que nós conheciamos. Reconhece¬
mos certas tendências e diversos indícios
mostram que se trata bem do espírito
reencarnado. Mas esperemos, por que Pier¬
re D . .. prometeu, no momento em que
se despedia, fornecer provas de sua reen¬
carnação.
ESPIRITISMO NO BRASIL
Operado por um Espírito na
residência do poeta Sergipano
Depois da intervenção, caminhou sem 0 au¬
xílio das muletas — Assistiram ao ato vá¬
rias pessoas inclusive médicos
Subordinada ao título e sub- tí¬
tulo supra, «À Tarde», de Salvador,
Bahia, de 26 de Abril último, publicou
circunstanciada notícia, enviada pelo
seu correspondente em Aracaju, rela¬
tando um caso sensacional de opera¬
ção clínica praticada por médico do
Espaço, na pessoa do sr. João Mene¬
zes de Oliveira, agricultor, residente
à rua Laranjeiras, naquela capital.
O sr. José Menezes de Oliveira,
segundo a narrativa em aprêço, ten¬
do há seis anos passados sofrido um
grave acidente, desde então se acha¬
va impossibilitado de se locomover
sem o auxílio de muletas.
No dia 10 daquêle mês compa¬
receu êle, ás 19 horas, à residência
do poeta Freire Ribeiro, onde se vi¬
nham realizando sessões espíritas, e
aí, pelo próprio beletrista, que é mé¬
dium vidente, foi visto .junto ao visi¬
tante o Espírito de um médico fran¬
cês, que declarou iria operar o sr.
Oliveira, cujo retrato «A Tarde» tam¬
bém inseriu.
«O dono da casa presenciou en¬
tão o Espírito aproximar-se do doen¬
te e aplicar-lhe uma injeção, tendo
êste, no momento, sentido a dôr pro¬
duzida pela mesma. Diante, do acon¬
tecido, Freire Ribeiro foi à residência
do dr. Waldir Barreto de Andrade,
médico, que mora defronte à sua ca¬
sa, pedindo-lhe para acompanhar,
como médico, tudo quanto se pas¬
sava».
«Ao chegar o dr. Waldir, o Es¬
pírito «apoderou-se* do doente e a-
pertou a mão do mesmo, declarando
que iria operar imediatamente o sr.
José Oliveira. Nesse momento deu-se
o fenômeno: José Oliveira movimen¬
tou a perna aleijada e, atirando as
muletas ao chão, percorreu a casa,
pulando, por fim. diante do médico,
dr. Waldir Barreto de Andrade».
Tendo o operador espiritual pro¬
metido voltar no dia 17 para conti¬
nuar o tratamento, à hora aprasada
reuniram se no mesmo local mais de
20 pessoas, entre as quais os médi¬
cos drs. Antonio Garcia Filho, João
França Santana e Nelson Tavares da
Mota e nessa ocasião o EsDírito, que
dera o nome de R. Charles, neuro-
operador francês já falecido, prosse¬
guiu o trabalho operatório, ao fim do
qual o paciente, que antes tinha a
perna tão dolorida a ponto de não
poder tocá-la, caminhou normalmente
até à sua casa, numa distancia de
cerca durn quilómetro, seguido de e-
- 126
iteTista internacional do Espiritismo
norme multidão tomada de curiosida¬
de e de espanto.
0 Diagnóstico formulado pelo Espirito
O mais sensacional — remata o
noticiarista —é que José Oliveira, que
nada entende de medicina, vivendo
simplesmente do cultivo de abelhas,
em sua residência, desde que ficou
aleijado, (antes era agente de segu¬
ros), escreveu tomado pelo Espírito
operador, o seguinte:
DIAGNÓSTICO : a) Lesão — ou
diagnóstico: ferimento contuso na re¬
gião glútea, seccionando as artérias
ciáticas, nervos ciáticos e veias; b)
não há lesões teninosas; c) Hipertro¬
fia no ciático popiteo externo direi¬
to; d) alta de função na região do
astrágolo. (a) —R. CHARLES.
Dr. Luiz Parigot de Souza
A’s 19,30 horas do dia 3 de A-
bril do corrente ano, nesta cidade,
Curitiba, Paraná, à rua Emiliano Per¬
neta, ô31, desincarnava o dr. LUIZ
PARIGOT DE SOUZA, médico nota¬
bilíssimo e extraordinário médium de
efeitos físicos e de voz direta.
Encontrei o nos últimos dias de
sua existência terrena no leito de dôr,
rodeado da família e dos amigos,
certo do seu próximo fim, mas e so¬
bretudo certo de que a morte é a
ressurreição. Desencarnou com sere¬
nidade e reconhecido com a vida,
que desfrutára, e lhe déra a conhecer
a verdadeira solidariedade humana.
Foi grande médico do corpo. Os
enfêrmos nele encontravam o conso¬
lador, o remédio e o alívio e, muitas
vezes, a cura.
Pensador, a tribuna popular e a
dos recintos fechados constituiam-lhe
a fôrça para defender o oprimido, e
combater o êrro, para edificar um
mundo melhor e mais instruído para
acelerar o progresso social. A sua
palavra sempre foi brilhante, eloquen¬
te e profunda. Sofreu muito no seu
apostolado libertário, porque a ini¬
quidade o constrangia e o prendia.
Muitas vezes foi perseguido, e per¬
deu cargo público porque entendia
que a sua consciência não estava sub¬
metida às conveniências pessoais, mas
estava ao serviço do bem coletivo.
Médium, superiormente inspira¬
do, colocava se humilde e devotado
aos deveres de sua mediunidade, e
muita gente, antes incrédula e não ra¬
ra zombeteira, recebeu o bálsamo da
prova da imortalidade da alma. Os
espíritos falavam aos assistentes, e
os assistentes, que antes não se im¬
portavam com os problemas do «A-
lém», passaram a compreender o Es¬
piritismo. Quem o visse discorrer so¬
bre o Espiritismo ficava-lhe grato pe¬
las salutares lições. Em verdade, o
Espiritismo é a doutrina da ternura e
do estímulo.
Eu que o conheci posso afirmar
que ê!e sempre foi «o médico das al-
âmas», no sentido próprio do têrmo.
Agora, no «Além», continuará mais
forte a batalhar pelo bem da huma¬
nidade e há de vêr que as suas idéias,
pensamentos e planos de vida melhor
para o mundo e para a humanidade
não é uma quimera, mas profunda
realidade.
Que Deus o ampare.
Francisco Raiiani.
De «Boletim Espírita», de Curi¬
tiba, Paraná.
Com o conhecimento da Verdade que Jesus -vos legou, o Espiritis¬
mo está edificando nas almas a verdadeira fé, que tem por base a
Imortalidade. Esforçai-vos, portanto, no sentido de difundir o mais e
o melhor possível, esta doutrina de vida eterna e amor, afim-de vos
tornardes partícipes da obra do Senhor. — CAIRBAR.
'
VV : X- - ' • - : r\y;'y.
i ■ .--- ■ ■ • ■ . ■ ■
Renista Internacional
—= do espiritismo
REVISTA MENSAL DE ESTUDOS ANÍMICOS E ESPIRITAS
Diretor: José da Costa Filho —-" Redator : A Watson Campeio
Reôação e Ròminisfração
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A Revista Internacional do Espiritismo está em comunicação com
as principais revistas européas, em vista do que, além dos artigos de fundo dos
seus colaboradores, publica os relatos dos jornaes de além mar, dá conta
das conferências, dos congressos, e na sua Crônica Estrangeira e E cos e
Notícias, deixa os leitores ao par de todos os factos e novidades Anímicos e
Espíritas ocorridos no mundo inteiro. A Revista aparece regular¬
mente a 15 de cada mês, com 32 a 40 páginas de acordo
com a matéria de urgência, utilidade e
— atualidade. —
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Agosto e são pagas adiantadamente
A’ venda na Livraria da Federação Espirita Brasileira
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